Vaca profana
Um clima de terra arrasada toma conta do ar. Parece que balas, canhões e guilhotinas triunfaram definitivamente sobre a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Com o objetivo de justificar o real sob a ótica dos poderosos facínoras, a ideologia dominante pretende nos enquadrar nas vontades do cárcere, salvando a pele de algozes em detrimento de inocentes vítimas. Corajosos defendem a paz, covardes buscam a guerra. A destruição inviabiliza qualquer desenvolvimento saudável. Armar-se até os dentes é um sintoma do domínio da morte sobre a nossa vida. A liberdade não é um alívio provisório — como os descansos entre duas sessões de tortura. Prova disso é a tensão permanente expressa pelo escritor Waldo César (1922-2007), no livro Tenente Pacífico (2002), sobre a Revolução Constitucionalista de 1932: "As onças comeram as nossas rações durante a noite e tememos que tenham devorado também o sentinela, pois ele desapareceu". Também havia o menino inocente que brincava de guerra com os soldadinhos de chumbo e amava a menina grande, sabida, que lhe oferecia os seios e o agradava naquele lugar endurecido sem que ele soubesse por que, embora gostasse. O afeto, mesmo diante do arsenal bélico, lembra a força revolucionária de Vaca Profana (1986), grande canção composta por Caetano Veloso: "Respeito muito minhas lágrimas/Mas ainda mais minha risada/Inscrevo assim minhas palavras/Na voz de uma mulher sagrada/Vaca profana, põe teus cornos/Pra fora e acima da manada/Ê dona das divinas tetas/Derrama o leite bom na minha cara/E o leite mau na cara dos caretas".
Marcos Fabrício Lopes da Silva,
Asa Norte
Harmonia duvidosa
Leitor assíduo desta seção, concordo com as observações de Renato Mendes Prestes, principalmente nas edições de 4 e 9 de março. Na verdade, quando se solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que uma peça teatral em que se ironizava Cristo, a ministra Carmen Lucia disse, enfaticamente, que "no Brasil, censura nunca mais". De repente um deputado e um político fazem duras críticas ao Supremo. O ministro Alexandre de Moraes manda prendê-los. Vejo que alguma coisa está errada: ou os ministros não se entendem, ou existe sim, censura parcial e seletiva. Infelizmente, o que estamos vendo é o desrespeito na harmonia entre os Poderes, e o Legislativo, vergonhosamente, está se omitindo e deixando que o Supremo dirija este país, até legislando em saúde pública e omitindo a sua função principal. Um determinado senador questiona no STF quanto à comitiva presidencial, sabendo que o presidente leva quem ele quiser para as suas viagens. No passado, impediu que Dilma nomeasse Lula para Casa Civil, e, posteriormente, Bolsonaro para a chefia da Policia Federal. Pelo que entendo, é privativo de um presidente nomear quem ele quiser. Na carta de hoje (ontem),o missivista acima citado fala da relação do presidente com seus subordinados e o vice-presidente. Muita boa análise, fazendo lembrar com o que dizem: melhor vice foi Marco Maciel, que soube cumprir o suas funções e nunca se excedeu em comentários.
Helcio Luiz Miziara,
Lago Sul
It's not done
Uma das tarefas mais difíceis desta vida, por alguma razão ainda não explicada pela ciência, é aprender uma de suas regras mais fáceis. A regra é a seguinte: certas coisas não se fazem. Não tem nada a ver com o fato de serem permitidas ou não por lei. Também podem não ser, em si mesmas, boas ou más, certas ou erradas. São, apenas coisas que não se fazem. Por quê? Porque não se faz, só por isso, não por uma pessoa dotada de coeficientes médios de decência, consideração pelos outros e boa educação. Aí, se você não sabe, temos um problema. Ou se aprende isso antes dos 10 anos de idade, ou não se aprende nunca. A língua inglesa tem uma expressão admirável a esse respeito: "It's not done"— na tradução mais direta quer dizer "Não se faz", e há todo um universo moral contido nesse "não se faz". É o que divide, no fundo, a qualidade interior dos seres humanos. Quem sabe naturalmente o que não se deve fazer, sem ter de perguntar a cada meia hora se deve agir assim ou assado, está no lado do bem. Quem não sabe, está no lado escuro da força. Pessoas que muitos erraram na vida têm um sonho tão precioso quanto impossível: voltar ao passado, por uns modestos instantes, só para não fazer os erros que fizeram. O arrependimento, como se sabe, deveria vir antes do pecado. A vida seria outra, se fosse assim. Infelizmente, só vem depois, e aí já não adianta mais.
Renato Mendes Prestes,
Águas Claras
Guerra
Tenho poder sobre minhas escolhas. Não tenho poder sobre as consequências das minhas escolhas. O autocrata russo, na sua ânsia pelo poder, revelou que desconhece totalmente essa máxima elementar do comportamento humano. Optou pela guerra, jogando milhões de ucranianos civis na sarjeta, entre eles enfermos, idosos e crianças. O Sr. Putin pode ser um deus na tecnologia bélica, mas não passa de um macaco branco na vida.
Marcelo de Lima Araújo,
Copacabana (RJ)
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.