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Correio Braziliense
postado em 19/03/2022 00:01

Ciência desprezada

Os Estados Unidos (EUA) ganharam 400 prêmios Nobel. Em 2021, foram premiados os americanos Ardem Patapoutian, em medicina e Syukuro Manabe, em física, que nasceram na Armênia e no Japão. Eles e milhares de outros estão nos EUA, atraídos pelas boas condições de trabalho e pesquisa. Essa é a razão do sucesso americano. Mas não são só cientistas que os EUA atraem. As portas estão abertas para profissionais qualificados que queiram trabalhar no país. Isso é viabilizado pelo visto H1B, que permite a entrada de mão de obra especializada. As crises podem se tornar oportunidade para quem sabe o que quer e não vacila. Ao final da 2ª Guerra, os EUA cooptaram cientistas alemães, que criaram a bomba atômica e os foguetes espaciais. Agora, a Alemanha incentiva a ida de cientistas ucranianos para o país e a Hungria busca atrair universitários. Mas no Brasil, infelizmente, ocorre o contrário. Só em 2020, perdemos 3.387 profissionais qualificados — cientistas, médicos, dentistas, engenheiros e executivos — para os EUA, que lideram a preferência. Mas muita gente vai para Portugal, Canadá e Inglaterra. Em 2019 e 2020, a busca pelo visto permanente nos EUA cresceu 135%, em comparação com 2015 e 2016. O Brasil nunca teve uma política séria e consistente nas áreas de ciência e tecnologia, que dê condição de trabalho e estabilidade a cientistas, o que os leva a deixar o país. Mas, agora, ficou pior. Para este ano, o governo cortou 90% dos recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia e do CNPq. A redução é da ordem de R$ 635 milhões. Uma tragédia. Este governo despreza a ciência. Logo no início, exonerou o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), por discordar dos dados de desmatamento e queimadas na Amazônia. Só faz o Censo Demográfico, em 2022, com dois anos de atraso, por exigência do Supremo Tribunal Federal (STF). O Brasil merece e precisa de uma política séria de P&D, que apoie a ciência e a pesquisa aplicada, para produzir inovação e tecnologia, com boas condições de trabalho aos cientistas, estímulo ao retorno de cérebros ao país e atração de estrangeiros. Sonhar é preciso.

Ricardo Pires,

Asa Sul

Supremo Tribunal

É fato sabido que o Supremo Tribunal Federal, pelo comportamento pessoal de parte de seus membros, se transformou há tempos no principal causador da instabilidade jurídica no Brasil. É uma aberração. O STF é justamente o órgão que deveria garantir o principal atributo a aplicação da justiça numa sociedade civilizada, a previsibilidade das decisões judiciais, elemento indispensável para dar aos cidadãos a segurança de saber que os magistrados vão proceder sempre da mesma forma na aplicação das leis. Sem isso não há justiça de verdade, há apenas os caprichos, as neuroses e os interesses materiais de quem está com o martelinho de juiz na mão. Não é apenas a estabilidade jurídica que está indo para o saco. A conduta degenerada de diversos membros do STF acaba sendo, também, uma ameaça constante à própria estabilidade política do país, com a produção irresponsável, incompreensível ou inútil de crises com os poderes Executivo e Legislativo, conflitos com porções diversas da sociedade e agressões à lógica comum. Para exemplificar, temos dois ministros, Dias Toffoli e Alexandre Moraes, que mergulharam num surto de decisões extravagantes, totalitários e denunciadas como puramente ilegais por muitos dos juristas mais respeitados do país. Toffoli e Moraes são duas nulidades, não vão a lugar nenhum com seus acessos de furor ditatorial e não vão, no fim, conseguir o que querem, destruir um dos três pilares da democracia, o Poder Judiciário. A história de ambos, como todo o Brasil conhece, é rasa, escura e miserável.

Renato Mendes Prestes,

Águas Claras

Manipulação

Não foram só as condições de vida do brasileiro que foram esfareladas desde janeiro de 2019. Parece que uma boa parcela, por algum elemento no ar ou na água — quem sabe? — ficou obnubiladas e não consegue enxergar, ou sentir, o caos em que o país está mergulhado. As instituições de Estado também foram gravemente afetadas nesse período. O país perdeu a Procuradoria-Geral da República, a Polícia Federal e várias outras. Tanto a PGR quanto a PF foram privatizadas — e são manipuladas — para atender interesses favoráveis aos desmandos, a empurrar para o lado obscuro do poder os potencias crimes praticados pelos políticos e pelas autoridades de Estado. PGR e PF, antes confiáveis, são hoje parceiras dos desmandos, das falcatruas e tantos outros erros previstos na legislação penal e com elevado grau de descrédito. Há quem faça críticas ácidas e infundadas contra o Supremo Tribunal Federal (STF), talvez, por viveram no universo dos retrocessos e, nessa condições, aprovarem as decisões trágicas do poder público que, diariamente, atenta contra a população. A Alta Corte tem sido uma aliada da sociedade, agindo para barrar os descalabros cotidianos do poder público. Não fossem as duras decisões do STF, provavelmente, não teríamos vacinas e, o pior de tudo, estaríamos revivendo regime de exceção instalado no país, em 1964, e assistindo a prisão, tortura e mortes daqueles que discordassem do capitão. Sabe-se que ainda há muito a ser feito para haja, efetivamente, Justiça neste país, mas não se pode negar que o STF tem sido um escudo para os atentados contra a cidadania.

Euzébio Queiroz,

Octogonal

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