Biografia

Artigo: Jan Balder, de piloto a historiador

PAULO FONA - Jornalista

Holandês de nascimento, o piloto e jornalista Jan Balder cresceu nas oficinas, nas fábricas e nas revendedoras de automóveis importados ou nacionais na recém-iniciada indústria automobilística do Brasil em São Paulo, no meio da década de cinquenta. Desde menino, acompanhando o padrinho, Otto Kuttner, e os amigos envolvidos na instalação da nova e promissora indústria no país, Balder ganhou gosto por carros, oficinas e pistas de corrida, além da arte de pilotar, que começaria antes mesmo de obter sua carta de motorista, tirada aos 18 anos.

Aos 10 anos conheceu uma de suas paixões da sua vida pessoal, esportiva e profissional: o autódromo de Interlagos, que visitou pela primeira vez levado pelo padrinho, chefe do Departamento de Testes da DKW Vemag, uma das empresas pioneiras na fabricação de automóveis no Brasil. Foi uma "injeção de gasolina nas veias", como ele recorda no primeiro capítulo do livro Nos bastidores do automobilismo brasileiro, volume 1, que iniciou a saga de sete obras sobre a história do automobilismo brasileiro, uma preciosidade para os amantes do esporte no país e uma fonte riquíssima para futuras obras sobre o tema.

Aos 13 anos, o menino Jan Balder já frequentava regularmente o futuro autódromo José Carlos Pace — um amigo de adolescência e de aventuras nas ruas paulistas e nas primeiras corridas profissionais no país — como cronometrista oficial da DKW Vemag. Era comum pilotos, inclusive de outras equipes, o consultarem para saber de seus tempos.

A precoce presença no autódromo da capital de São Paulo enraizou de vez em seu sangue o gosto por motores, carros, pneus, corridas e oficinas que se tornaram o seu cotidiano e seu ganha pão como piloto de bólidos de toda a espécie — de motos, monopostos, carros de Rally, protótipos e Porches e BMWs que dirigiu ao longo de quase três décadas.

Jornalista, Jan Balder escreveu para a revista especializada Auto Esporte, comentou corridas na rádio Eldorado e, agora, o faz na Rádio Band News FM, desde 2006. Escreve e fala com propriedade e conhecimento de causa de quem passou a vida no ambiente automobilístico.

Lançou recentemente o livro Carros, equipes e memórias, o sétimo depois de Nos Bastidores do Automobilismo Brasileiro, volumes 1 e 2; Paixão pelo automobilismo; Tempos dourados, sobre a Fórmula Vê de monopostos no Brasil; Protótipos exuberantes; e o Lorena GT.

A diversidade de títulos dos livros e de categorias dos carros de corrida mostra como Jan Balder viveu e vivenciou a fundo o automobilismo nacional nas décadas de sessenta e setenta. Não faltam histórias saborosas para quem gosta de um bom texto e de corridas de qualquer espécie.

Vale o registro da conversa dele, ainda moleque de calças curtas da época, com o ídolo Chico Landi, o brasileiro pioneiro da Fórmula 1 e o primeiro a ganhar uma corrida pela Ferrari, o GP de Bari (Itália) em 1948, prova ainda não válida para o campeonato mundial, que só começaria dois anos depois.

Landi, algumas vezes, deu carona para o "alemãozinho", como o chamava e lhe contava histórias, como a de uns médicos cariocas que queriam lhe amputar uma perna após um grave acidente no famoso Circuito da Gávea."— Não tive dúvidas: fugi do hospital junto com meu fiel mecânico, Cacau, e me mandei para São Paulo, contrariando os médicos e seus diagnósticos pessimistas", contou Landi ao garoto, que, anos depois, reproduziria o diálogo no seu primeiro livro.

No final da década de 1950, as fábricas instaladas no país — DKW, Simca, FNM, Willys — começaram a participar oficialmente das competições, cooptaram e profissionalizaram jovens pilotos, entre eles Balder. Contemporâneo de Wilson Fittipaldi (Tigrão), seu irmão Emerson (Rato), José Carlos Pace (o Moco), Bird Clemente e Luiz Pereira Bueno, Balder (apelidado de Omelete) assistiu de perto à debandada brasileira de pilotos para a Europa, como registra um capítulo do seu primeiro livro. Nele, confidencia que Emerson viajou em segredo para a Europa porque temia que Pace o seguisse imediatamente, o que só viria ocorrer dois anos depois.

Jan Balder registra também sua presença na quarta prova Mil Quilômetros de Brasília, em 1963, como cronometrista da equipe Willys e suas berlinetas amarelas. Brasília que, por sinal, ocupa um espaço especial na sua coletânea de livros, pela sua principal prova, as equipes e pilotos locais que disputavam competições nacionais.

Nos protótipos exuberantes, ele cita o ídolo da época da cidade, Ênio Garcia e seu Elgar GT feito "em casa" e o Patinho Feio de Alex Ribeiro e seus amigos da oficina Camber — no livro, Balder revela que foi o Correio Braziliense que batizou o carro de patinho feio, porque seu apelido anterior era Ovni. Todas essas e outras histórias compõem os sete livros de Jan Balder, que na sua carreira colecionou vitórias e títulos e, agora, deixa registrado, num estilo elegante e direto, os causos de sua longa jornada no automobilismo brasileiro.

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