A fanfarronice do deputado Daniel Silveira (RJ) acabou quando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), apertou-lhe o bolso com uma multa de R$ 15 mil diários se não colocasse a tornozeleira eletrônica que fez por merecer. No mesmo dia, em mais um palanque que o Tribunal Superior Eleitoral não viu, Jair Bolsonaro, em novo episódio de histrionismo delirante, disse que a eleição presidencial não seria decidida "por duas ou três pessoas". Os alvos, bem claros, são o pleito de outubro e as urnas eletrônicas.
Se Bolsonaro for derrotado, está evidente que tentará melar o jogo. Não creio na equidistância dos militares. Serão dias tumultuados, como o último Sete de Setembro, talvez até piores. A agonia se potencializará quando o presidente receber os primeiros e evidentes sinais de que o querido Centrão começará, na cara dura e ainda dentro do governo, a costear o alambrado para não ficar no sal com o próximo ocupante do Planalto.
O problema é que, num futuro governo sem Bolsonaro, ele lamentavelmente continuará presente. Ou melhor, os princípios e ideias que defendeu ainda ecoarão pela sociedade e nos parlamentos país afora. Seus representantes permanecerão, criaturas piores do que o criador.
Das más heranças que Bolsonaro deixará, uma é a afronta ao Judiciário — o descumprimento às decisões judiciais e a contestação violenta às homologações dos tribunais. Muitos que bateram de frente com os juízes, sobretudo os do STF, o fizeram escorados na imunidade parlamentar. Distorceram os mandatos para pregarem a desobediência e a insubordinação. Saíram derrotados mesmo assim.
Só que a percepção do andar de baixo é diferente. Até sentirem a mão pesada dos ministros, tiveram, inclusive, a ousadia de simular um bombardeio ao Supremo. Abatidos no auge da irresponsabilidade, ao sentirem-se abandonados, só lhes restou o choramingo nas redes sociais e as críticas àqueles que apoiavam. Uma turminha solerte que voltou para a lata de lixo.
A raiz da desordem foi detectada pouco mais de meio século atrás por Pedro Aleixo, quando da decretação do AI-5 por Costa e Silva: o problema não é o poder maior, mas o guarda da esquina. Invertendo a lógica, o problema não é o político torpe, e sim o cidadão comum que se sente no direito de peitar a Justiça. Isso não é contestação, como querem fazer parecer — é arruaça.
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