opinião

Visto, lido e ouvido: Más companhias

Circe Cunha (interina)
postado em 17/04/2022 06:00

"Diga-me com quem andas e eu te direi para onde vais". Esse é o único modo correto de empregar esse antigo ditado. Qualquer outra variação poderá ficar no limbo das probabilidades e das incertezas. Com isso pode ficar demonstrado também, e de modo explícito, que o agrupamento de países de economia emergente, fundado em 2006, denominado Brics, representa hoje, para o Brasil, uma incógnita semelhante ou até mais profunda do que a representada pelo Mercosul.

A política terceiro mundista, defendida pela esquerda, que governou o país por 13 anos, trouxe em sua algibeira suja parcerias de além-mar que o racionalismo econômico consideraria, na melhor das hipóteses, como uma incógnita a ser analisada com as maiores doses de precaução. Não apenas pelo aspecto geográfico, que coloca essas economias o mais distante das terras brasileiras. Tampouco, pelas diferenças culturais, também imensas. Mas, sobretudo, pelos anseios diversos e até opostos que essas nações, de governos centralizados e monocráticos, nutrem em relação ao mundo, à democracia, a liberdade econômica e a uma série de outros valores, que, queiramos ou não, devem se refletir nas relações econômicas.

Geografia é destino, afirmam os positivistas. Nesse caso, que caminho seguro poderia existir, de fato, nas relações firmadas, em acordo tácitos, com nações situadas do outro lado do planeta, quando se sabe que, por exemplo, China, Índia e Rússia, por suas características próprias, sequer jamais, em tempo algum, consideraram o Brasil como parceiro estratégico e histórico? É como se firmássemos acordos com seres de outro planeta.

O que sabemos, e até vagamente, é que a pretensa estabilidade política de países como a China e Rússia se dá, exclusivamente, pelo modelo centralizado de governo. São, em outras palavras, ditaduras de partido único, governadas por camarilhas que traçam cada centímetro de política social e econômica, com objetivos claros de trazer o máximo de lucro para dentro de seus Estados, com o mínimo de concessões.

Se tratam seus próprios cidadãos e nacionais com dureza e mesmo desprezo, que tratamento poderíamos esperar por parte desses governos, se não aquele em que os lucros e outras vantagens estarão sempre acima de qualquer noção de dignidade humana ou da ética? Quem compra produto roubado incorre no crime de receptação. Do mesmo modo, quem compra produtos fabricados por trabalhadores em condições de mão de obra escrava está incorrendo no crime de conluio com essas práticas.

Nas relações econômicas, não se pode levar em conta essas práticas, tão pouco ignorá-las por completo. Na Europa, muitas redes de supermercados estão boicotando produtos made in Brazil, cuja origem vem de áreas desmatadas ou que foram produzidos em detrimento do meio ambiente.

A invasão da Ucrânia, por tropas russas, pelos seus desdobramentos desumanos e por suas características de inúmeros flagrantes de crime de guerra, deveria chamar a atenção dos membros do Brics. Ou o comércio regular entre esses países seria o anátema aos tratados comerciais? Poderia haver relações econômicas sem as luzes da ética?

Pode uma guerra que já gerou milhares de mortos e mais de quatro milhões de refugiados não deixar marcas ou traumas nas relações econômicas entre Brasil e Rússia? A China, que há muito vem ensaiando militarmente invadir a quem chama de república rebelde, Taiwan, por certo seguirá o mesmo caminho que Putin, em sua reafirmação imperialista. Também nesse caso, as relações econômicas dos Brics devem seguir seu curso normal? O mesmo pode fazer a Índia com relação ao Paquistão. O Brasil, como fez quando era governado pela esquerda, prosseguirá suas relações com parceiros dessa natureza, fechando os olhos para o que fazem do outro lado do planeta?

Ao escolher andar com países com esses níveis de implicações políticas e com essas extensas fichas de atentados contra os direitos humanos, o Brasil mostra ao mundo civilizado que é igual a eles e vai seguir o mesmo rumo. Talvez seja até pior que eles. Mas uma coisa é certa. Andará em más companhias.

» A frase que foi pronunciada

"A linguagem simbólica da crucificação é a morte do velho paradigma; ressurreição é um salto para toda uma nova maneira de pensar".

Deepak Chopra

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De volta

Realmente emocionante a encenação da Paixão de Cristo no Morro da Capelinha. Desta vez, a celebração da cruz foi presidida pelo arcebispo de Brasília, dom Paulo César.

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