62 anos, lembranças
Está aberta a temporada de textos, depoimentos e declarações sobre o que Brasília representa para fulanos e fulanas, nesta comemoração de seus saudáveis 62 anos de vida. Seis décadas atrás, para se chegar por aqui, quando tudo era mato, poeira e trator, você tinha duas opções; as rodas da Viação Araguarina, ou as asas da Panair. A Araguarina ainda roda por aí, a Panair acabou em 1965. Sobrevive apenas na música do Milton Nascimento. O que mais a dizer sobre essa Brasília rebelde, atrevida, corajosa, moderna, teimosa, resistente, exótica e polêmica? Quando foi gerada e concebida, assustou o mundo. O gesto heroico, e retumbante de Juscelino, talvez tenha sido o acontecimento do Século, contestado por cariocas e vizinhos, tal a ousadia desafiante, quase um desatino. Vez por outra, bate um quê de emoção e saudosismo ao me lembrar de fatos e coisas que testemunhei nessa cidade que vi nascer, participei do parto. A primeira missa foi o primeiro evento. A época, a ingenuidade juvenil não me permitia imaginar o que de fato aquilo representava. De lá para cá, percorrendo ruas e becos, convivendo com Antonios e Marias, de diferentes etnias, religiões e cor, aprendi a respirar cidadania. Por aqui, já sei que deixarei raízes, que espero se consolidem e gerem afago, afeto e amor. O legado de Juscelino, Bernardo Sayão, Israel Pinheiro e centenas de outros que se foram a história já registrou. Nem me considero um pioneiro. Eu já estava por aqui. A cidade é que chegou.
José Natal,
Jornalista
Brasília
Dirijo-me, ou melhor, me destino (sim, porque confesso preferir os encantos do porvir ao previsível controle da direção) a esse narrador que, com o sopro leve de suas penas, dá vida à vida de todos nós. E o faz nos encantando com histórias reinventadas. E nos cria ao nos interpretar! Ou seria o oposto: nos interpreta ao nos criar? Quem sabe, ainda, seríamos nós que o criamos quando o suspiramos com cada uma de suas divinas crônicas? Todas as vezes em que Brasília quis se mostrar humana, vulgar, visceral, sem filtro, escandalosa ou pudica aos nossos olhos aguardamos, sem hesitar, o olhar do Pestana... aquele que entende como ninguém o nosso caleidoscópio... desde a mesa de bar às mesas de concertação do poder: Paulinho, o Pestana, nosso intérprete! Nesse dia em que celebramos 62 anos de Brasília, apelo a um de seus melhores tradutores: quem somos nós, afinal, os brasilienses? Diga, por favor, para onde vamos? Da minha lente prestes a partir, penso que estaremos sempre em busca do inteiro, tentando tipificar a utopia, arrastando-a para o aqui e o agora, tal qual sonho de Dom Bosco. Antes de qualquer resposta possível, desde já agradeço: obrigada querido Paulo Pestana! Salve, nossa Brasília!
Glaucia Foley
Juíza, candanga desde 1992
Virtudes e problemas
O Correio Braziliense, como em todos os anos, publica alentado caderno sobre a comemoração de mais um aniversário da capital do Brasil, enaltecendo as muitas virtudes que seus moradores apontam, como a convivência, a maior tranquilidade em relação a outras cidades, e outros aspectos que devem realmente ser realçados. Mas Brasília tem muitos problemas, e estes vão surgindo à medida que seus administradores se preocupam em transformá-la uma metrópole como as demais, com o excesso de carros, construção de novas vias, novos bairros, regularização de invasões, insegurança e deficiências na saúde e na educação. A propósito, caberia ser republicada a coluna "Visto, lido e ouvido", publicada em 10 de março último, em que Circe Cunha aponta a falta de espaços culturais em nossa cidade, enquanto proliferam os bares, restaurantes, farmácias e lojas de quinquilharias.
Hélio Socolik,
Lago Sul
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