SILVESTRE GORGULHO — Jornalista, foi secretário da Cultura do DF
O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro. A sátira é vazia por dentro, mas faz um barulho danado. Na política, a sátira combate o mau humor, os extremismos e a polarização de ideias. Como todos preveem uma campanha acalorada para a próxima eleição, o melhor mesmo é ir de sátira — debate entre diferentes partidos. Tempo bom é quando a liberdade de escolha vale como direito de todos, mas infelizmente são poucos os que a exercem com bom humor e elegância. Com maldições e sem maldições.
Mediador — Maldição que se repete é sempre praga que pega. É como rastilho de pólvora se cai na boca do povo. E todo eleitor atento acompanha e não nega mistérios de uma campanha que, a cada pleito novo, derrama promessas e dinheiro de fazer perder a fé. A política candanga, parecendo cobra-cega, assusta os candidatos e também os eleitores, deixando cada um deles de cabelo bem em pé. Para começar o debate, coloco esta questão: por que granjas em Brasília têm morador diferente? Nelas só moram ministros, governador, presidente? Se granja é feita para bicho, por que essa tradição?
Candidato do PT — Só pode ser por capricho que os granjeiros daqui são gente posicionada lá no mais alto escalão. Tem a Granja do Ipê, com segurança e conforto. Tem granja até com haras para fazer equitação como a Granja do Torto, onde morou por um tempo, longe do cheiro do povo, o chefe maior da nação. A Granja de Águas Claras virou casa oficial do governador do DF e lugar de reunião. Mas uma coisa acontece, pois nessa granja atual — e isso ninguém esquece — tem ponto na contramão, pois os fatos se repetem a cada nova eleição.
Candidato de PTB — Desde que a Abadia instalou o seu governo-tampão como vice do Roriz, começou a maldição. Começou uma sequência de fatos inexplicáveis. Pode acompanhar a história, pois nunca ela mente. Primeiro foi sedução, mas tudo mudou muito fácil, teve até primeiro-damo com nome de Bonifácio, que não aguentou o rojão e saiu pela tangente.
Candidato do MDB — A maldição é constante para quem ali passou. Veio o Arruda e sofreu o pão que até o diabo amassou. O Rosso perdeu o rumo e não acertou mais o prumo depois que, lá em Águas Claras, foi tocar sua guitarra. Tentou até se reeleger e acabou tomando choques igualzinho ao senador Hélio José Gambiarra.
Candidato do PTB — Um por um, todos perderam e ninguém saiu ileso. Teve candidato preso antes e depois da eleição. O Agnelo talvez saiba e o Rollemberg também, mas ficam de bico calado e não contam para ninguém. O fato é que a maldição está no governador da vez. Não vai ter corpo fechado, nem mesmo para o Ibaneis. É só esperar a eleição para ver o que vai dar: a maldição continua ou a praga vai acabar?
Candidato do PSB — Nosso eleitor não tem medo, mas precisa explicação — qual será o segredo de tamanha controvérsia? Águas Claras é sombra que está fora da curva. Quem sabe se troca o nome e dou aqui sugestão. Os novos tempos anunciam: a Granja da Água Turva.
Candidato do PL — Já que ninguém consegue se livrar dessa desgraça que se repete há anos, sempre na mesma praça, lanço logo o desafio, garanto, digo e anuncio. Quem descobrir o segredo desse mistério sem fim vai beber vinho de graça com um passaporte azul nos bares filiados que ficam na Asa Sul. E ainda tem um bônus que meu partido vai dar. Pagamos toda a campanha do começo, meio e fim. Nosso trato é muito sério e inclui até uma foto para levar para casa um legítimo vale-voto feito bem sob medida pelas urnas do Fachin.
Mediador — Esse debate foi bom, mas o tempo já se esgotou. A política sempre ensina uma belíssima lição. Não adianta falar mal, nem mesmo da maldição. Nas voltas que a vida dá, há que ter mais tolerância, pois os inimigos de hoje, na próxima eleição, podem estar muito juntinhos defendendo a mesma fé. E aí, como é que é? Amiguinhos de infância? Eu só tenho uma certeza, pois guardem este segredo. Um candidato sem medo é igualzinho ao mar que, em vez de sair para briga, tira seu rei da barriga, e vai logo abraçar o mais terrível rochedo.
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