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Correio Braziliense
postado em 28/04/2022 00:01

Lição de Caymmi

Convenhamos: a preocupação com a própria pele supera a vontade de enfrentar os grandes problemas nacionais. Como disse o ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo, em entrevista concedida à jornalista Mônica Bergamo: "Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa" (Folha de S.Paulo, 18/5/2006). A elite brasileira se formou nos tempos coloniais e atravessou o Império montada na posse de terras e no trabalho escravo. Compôs as oligarquias da República Velha (1889-1930) e depois tomou a forma industrial e financeira no comando político do país. É concentradora de renda por natureza, está nas primeiras classes dos aviões, nos hotéis de luxo, nas praias mais badaladas e nos empreendimentos mais sofisticados. Anda mais preocupada com a sua aparência pessoal do que se tem alguém morrendo de fome no Brasil. Mesmo assim, a sociedade pode tirar um coelho da cartola, votando em pessoas que prezam pela democracia republicana. De forma inteligente, a opinião pública deve fazer valer o ensinamento de Dorival Caymmi (1914-2008): "Pobre de quem acredita na glória e no dinheiro para ser feliz" (Saudade da Bahia, 1957).

Marcos Fabrício L. da Silva,

Asa Norte

Liberdade

De vez em quando aparecem umas cobrinhas e jararacas a se manifestar contra a democracia e contar glórias aos anos de chumbo. Esquecem-se dos tempos tormentosos que todos vivemos naquela escuridão de atravessadores da lei e da ordem. Tem gente que não se lembra de que o feitiço pode virar contra os enfeitiçados, pela eventual derrocada da Constituição Federal. Como disse Mariana Niederauer: "A liberdade, a capacidade de compreender e interpretar os acontecimentos do mundo (e do Brasil), nutrir respeito pelos outros — são cláusulas pétreas que podem impedir o avanço de atitudes regressivas e totalitárias". Pior é gente que aplaude, sem se lembrar de que a tortura é cega e que um possível estado de sítio não poupa ninguém. Não é fácil, mas ainda é tempo. Nada a ver com esquerda ou com direita, mas com a vida de todos. "Grandes poderes exigem grandes responsabilidades". Egos inflados pelo poder causam grandes danos. Taí a fome generalizada e os desvios de verbas públicas sem qualquer constrangimento. Não há bem-estar social sem a liberdade de existir.

Thelma B. Oliveira,

Asa Norte

Democracia

A democracia no Brasil, se quisermos dizer a verdade em voz alta e sem perder tempo com muito palavrório, está valendo cada vez menos. Esqueça essa conversa que "as instituições estão funcionando", ou que a democracia brasileira "está adulta", ou que "não há mais lugar para aventuras autoritárias" no mundo do século 21. A democracia no Brasil pode estar adulta, mas sua idade mental no momento é de três anos. É claro que estão em vigor os direitos e as liberdades mais comuns, e isso precisa de uma ordem democrática para existir. Você pode tomar um ônibus de Brasília a Porto Alegre, por exemplo, sem pedir licença a ninguém. Pode falar mal do governo quanto quiser. Pode ir à igreja da sua preferência, ou não ir. A democracia neste país, hoje, é uma geringonça sem pé nem cabeça. Honestamente: como é possível o país ter democracia e, ao mesmo tempo, ter os ministros Edson Fachin, Alexandre Moraes e Ricardo Lewandowski, três dos 11 monarcas que hoje se sentam no Supremo Tribunal Federal (STF)? Ou se tem uma coisa ou a outra. Todo mundo sabe que não pode existir democracia em lugar nenhum sem que haja plena segurança jurídica, ou seja, sem a expectativa de que a lei será aplicada conforme está escrita e dentro de um entendimento racional, todas as vezes que for necessário e de maneira igual para todos. Com meus respeitos, mas esses três ministros são o que se poderia chamar de insegurança jurídica ambulante. Nossos mais altos tribunais de Justiça parecem hoje montepios de ajuda mútua, em que solidariedade entre os sócios se pratica por meio da automática puxação perene de saco. O STF, por sinal, é o retrato vivo de uma democracia na UTI.

Renato Mendes Prestes,

Águas Claras

Insulto

Bolsonaro e o ainda deputado Daniel Silveira viraram o Brasil pelo avesso. O desatinado mito de barro insiste na defesa de um correligionário irresponsável, arrogante e truculento. Que insultou ministros do Judiciário e incitou a violência. A liberdade de expressão não foi feita para ultrajar a democracia nem para ser usada por fanfarrões, escondidos na imunidade parlamentar. Bolsonaro, por sua vez, consegue o que quer, com o inacreditável indulto a um criminoso engravatado: atrair mais adeptos sanguinários e intolerantes, seguidores do quanto pior, melhor. Exagera nos absurdos, visando a reeleição. Atropela o bom senso. Estica a corda. Provoca o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral(TSE).  Monitorado por Bolsonaro, o rastejante Daniel continua aprontando e provocando. Anunciou, desta feita, refugiando-se dentro da Câmara dos Deputados, onde não pode ser preso, que deixou de usar a tornozeleira eletrônica. Mais um deboche e afronta do fantoche deputado, contrariando decisão do ministro da suprema corte, Alexandre de Moraes. Lamentável e inacreditável que um país que luta para ser civilizado e respeitado por outras nações, detenha-se, perca tempo e gaste energias com episódio tão degradante e surreal, deixando de cuidar e procurar solucionar outros problemas graves, como desemprego, fome e insegurança.

Vicente Limongi Netto,

Lago Norte

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