Editorial

Visão do Correio: Inflação deve ser combatida

Os brasileiros que vão aos supermercados e aos postos de combustíveis têm a exata noção do tamanho do surto inflacionário que tomou conta do Brasil. A cada semana, os preços estão mais altos e a sensação de empobrecimento é maior. Consome-se cada vez menos. As famílias de menor renda são as que mais sofrem com a perda do poder de compra. Pelos cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde a edição do Plano Real, em julho de 1994, nunca se viveu um período de carestia tão pesada quanto agora.

A prévia da inflação de abril, medida pelo IPCA-15, atingiu 1,73%, o índice mais elevado para o mês em 27 anos. No acumulado de 12 meses, o custo de vida passa de 12%. A disseminação dos reajustes na economia é tamanha, que oito dos nove grupos de preços pesquisados pelo IBGE apontaram alta. Não à toa, a população já não consegue mais discernir o que é caro e barato. Quando a inflação passa de dois dígitos, perde-se a referência. O custo de retomar o controle da situação fica maior e a conta é paga, sobretudo, por pessoas e empresas que precisam de crédito para consumir e investir na produção.

De março do ano passado até agora, a taxa básica de juros (Selic) saltou de 2% para 11,75% ao ano. E subirá mais um ponto percentual na próxima quarta-feira. Desde a adoção do regime de metas de inflação, em 1999, em nenhum ciclo de aperto monetário registrou-se um arrocho tão forte como este. E pode piorar, pois, diante da resistência dos reajustes de preços, é muito provável que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central seja obrigado a pesar a mão nos juros. As perspectivas apontam para uma taxa Selic de 13,50% anuais. Um baque para a economia.

Integrantes do governo atribuem a disparada do custo de vida à guerra da Ucrânia, contudo, é fundamental ressaltar que, quando a Rússia invadiu o país vizinho, a inflação no Brasil já estava em dois dígitos, reflexo da pandemia, e apontando para cima. O conflito no Leste Europeu só agravou o quadro, pois encareceu ainda mais os alimentos e os combustíveis. Boa parte da carestia acumulada até agora se deve à valorização do dólar ante o real por causa da crise política interna. Semanas atrás, ensaiou-se um alívio nas cotações da moeda norte-americana. Mas, com o novo embate entre o Executivo e o Supremo Tribunal Federal (STF), colocando em risco a democracia do país, a divisa voltou aos R$ 5. Dólar alto contamina todos os preços da economia.

A história já mostrou que, com inflação, não se brinca. Não só empobrece a população, como desestrutura as cadeias produtivas. O Brasil viveu quase três décadas de descontrole total dos preços, o que resultou em uma das sociedades mais desiguais do mundo. É verdade que o Banco Central está exercendo plenamente a sua missão de tentar levar o custo de vida para a meta — neste ano, de 3,5% —, porém, é urgente que os que exercem o poder retomem a serenidade e evitem crises que minem a confiança no país. Credibilidade e previsibilidade são fundamentais para reverter o mal que afeta a todos.

Em outubro próximo o país irá às urnas. É evidente que a inflação alta pesará na decisão dos eleitores na hora de votar. E todos devem dizer um sonoro não para aqueles que são lenientes com a carestia. Bons governantes devem se preocupar com o bem-estar duradouro da sociedade, não com políticas populistas que têm efeitos limitados e não se sustentam em ambientes de preços descontrolados. Inflação fora de controle mata. Portanto, deve ser combatida a qualquer custo.

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