Editorial

Visão do Correio: Proteção vacinal para as crianças

A baixa cobertura vacinal de crianças no Brasil tem preocupado especialistas. Doenças que já haviam sido erradicadas no país, como sarampo, catapora, rubéola e caxumba, correm o risco de voltar e provocar nova onda de contágio no momento em que ainda se discute a imunização contra a covid-19 no público infantil.

A vacinação é a forma mais efetiva como prevenção dessas doenças, portanto, as consequências da queda nos índices de imunização no Brasil não podem ser ignoradas. Casos de sarampo já têm sido registrado no país este ano e acende o sinal de alerta para a necessidade de informar e conscientizar pais e responsáveis para a importância de manter o calendário vacinal das crianças atualizado, que inclui a proteção contra doenças como poliomielite, gripe, sarampo, caxumba, rubéola e meningite.

A Organização Panamericana de Saúde certificou, em 2016, que o Brasil tinha eliminado o vírus do sarampo. Mas, em 2019, o Ministério da Saúde registrou cerca de 12 mil novos casos da doença. Em quatro anos, foram mais de 40 mil pessoas com sarampo e 40 mortes, sendo que metade delas ocorreu em crianças menores de 5 anos de idade.

Para que haja proteção, o ideal é que a cobertura vacinal atinja mais de 90% da população, mas as taxas gerais de imunização no país têm ficado abaixo desse índice desde 2012, chegando a 50,4% em 2016. No ano passado, segundo o Ministério da Saúde, esse percentual foi de 60,7%.

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) tem como um dos principais imunizantes a vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), cuja cobertura caiu para 71,4% no ano passado, provocando o surgimento de novos surtos de sarampo. A doença, em casos mais graves, pode causar pneumonia e inflamação no cérebro, levando a óbito.

Outra vacina que vem tendo queda na procura é contra a poliomielite. Sem campanhas do Zé Gotinha que estimulavam a imunização nos primeiros anos de vida, a cobertura caiu de 96,5% em 2012 para 67,6% no ano passado. A doença foi considerada erradicada no Brasil em 1989, quando ocorreu o último caso, mas é outra patologia que corre risco de voltar.

Além dessas, a meningite preocupa especialistas da área de saúde. A enfermidade, que apareceu no Brasil em 1906 e teve o maior surto registrado em 1970, só teve vacina em massa em 1975. Na segunda-feira, foi celebrado o Dia Mundial da Meningite, cuja campanha tem como objetivo destacar a importância da prevenção, do diagnóstico e da vacinação em massa. Como as outras doenças que atingem o público infantil, a imunização está disponível no calendário do Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo dados do PNI, o Brasil não atingiu nenhuma das metas de cobertura das vacinas infantis disponíveis em 2020. A imunização ficou em apenas 75% em 2021, acentuando uma queda nos últimos seis anos. Em entrevista recente, o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, afirmou que a queda no número de crianças vacinadas vem acontecendo desde 2015 e se acentuou nos dois anos de pandemia.

É preciso investir em políticas públicas que busquem estratégias para que todas as conquistas que o país teve na área de imunização sejam asseguradas. Nesse contexto crescente do movimento antivacina — reforçado na pandemia de covid-19 —, combater as fake news e disseminar informação e conscientização são ações fundamentais para impedir o retorno dessas doenças.

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