Ventos de outubro

Correio Braziliense
postado em 19/05/2022 00:01

Com ou sem eleições, o fato é que, dentre as lideranças políticas deste país, incluídos nesse rol todos os candidatos que aí estão se apresentando para o pleito de outubro deste ano, não parecem reunir condições ou capacidade de deter o quadro de decadência institucional do Estado brasileiro.

Os eleitores que, em tese, deveriam caber a capacidade de mudar os rumos do país, seguem indiferentes, como bois rumo ao matadouro. Não se iludam, as eleições nada mudarão no dia a dia dos brasileiros. A inflação continuará aumentando e a corrupção dentro da máquina do Estado e que está na raiz de todos os nossos problemas permanecerá da mesma forma ou talvez com mais intensidade. Também a indiferença dos políticos e dos altos escalões da República, com todos os seus privilégios e mordomias e toda a sua capacidade de manterem-se imunes às leis, continuará ou, quem sabe, ganhará ainda mais fôlego.

As injustiças sociais e a concentração de renda, que faz de nosso país o campeão mundial das desigualdades, permanecerão as mesmas ou talvez até cresçam ainda mais, aumentando o fosso entre ricos e pobres. Da mesma forma continuarão os programas ditos sociais, que escondem, em seu interior, mecanismos viciados de perpetuação do voto de cabresto. Programas formulados à custa dos pagadores de impostos apenas para dar projeção aos anseios pessoais de políticos sem escrúpulos e sem projetos para o país.

Esses e outros programas, desenhados de última hora, e sob a pressão das eleições, permanecerão intactos, justamente porque impossibilitam que largas parcelas da população encontrem meios de tomarem posse de seus destinos, libertando-se, de vez, do jugo populista. Do mesmo modo ficarão os aumentos cíclicos dos fundos bilionários eleitoral e partidário, assim como as emendas secretas e todo um conjunto de benefícios vetados aos cidadãos comuns.

O que haverá de fato nessa dança das cadeiras são mudanças cosméticas, em que os donos das legendas milionárias e seus caciques, todos eles amasiados na mais rendosa e segura empresa que existe, designarão aqueles que irão para esse ou aquele posto, para que tudo permaneça como está.

Também ficarão os modelos perversos de reeleição, assim como a possibilidade de parlamentares elegerem para uma função e abrir mão dela em troca de um outro cargo mais vantajoso, jogando fora os votos recebidos. Ficará ainda onde está a malandragem dos suplentes a deputados e senadores, cabendo nessa função até mesmo o pai ou a mãe. Os campeões de emendas secretas permanecerão onde estão.

A impunidade para os poderosos, amigos, parentes e agregados, incluindo nessa lista até as amantes, permanecerá a mesma. Só poderosos ganharão na Justiça causas contra o Estado. O mesmo vale para a impossibilidade de prisão em segunda instância, tudo igual.

É isso ou aquilo, numa mistura eterna e mal cheirosa entre passado e presente e onde o futuro é sempre adiado. Marchamos para as urnas como condenados marcham em direção ao laço da forca, que balança com os ventos de outubro.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags