PEREGRINAÇÃO

Ana Dubeux: "não há fim do caminho"

O caminho desde Portugal a compostela foi uma aventura de meditação constante e autoconhecimento

Ana Dubeux
postado em 29/05/2022 06:00
 (crédito: Santiago de Compostela/Divulgação)
(crédito: Santiago de Compostela/Divulgação)

Sim, chegamos a Santiago de Compostela — e fomos um pouco além, uns 100km para chegar a Finisterra e Muxia. Vencemos uma das muitas rotas usadas pelos peregrinos, a partir de Portugal, para experimentar um trajeto de paz interior e autoconhecimento. A viagem não foi do jeito que imaginei. Que bom que foi assim. Talvez esperasse um tanto a mais de magia, quem sabe. A vida no caminho não é diferente da vida real. Ao contrário: no começo, a rotina de acordar cedo, preparar a mochila, olhar o mapa, ver a previsão do tempo para saber exatamente o que vestir e não levar nada em excesso tende a ser até mais extenuante e difícil do que o dia a dia da sua casa, com a sua gente e as testemunhas do seu trabalho. 

A diferença é que o caminho lhe ensina a identificar melhor os problemas reais das confusões tolas, das chatices desnecessárias. Você enxerga as noias do outro e mais ainda as suas. Tem mais tempo para definir qual será a vestimenta da alma naquele dia, decidir se vai cair no mau humor do outro ou seguirá em frente. 

O caminho é uma meditação constante, uma aula de autoconhecimento. Ajuda quem quer melhorar a si próprio e a reconhecer seus próprios erros. Pode-se fazer isso com leveza ou com mais peso. No meu caso, humor é preciso. 

Fiz um exercício de imaginar os meus amigos no caminho, me diverti pensando nos aquarianos, como agiriam a cada trecho, a cada seta, a cada encontro nos cafés. Eu sempre tive aquarianos por perto e sempre gostei da experiência. Julgo que são organizados, planejados, mas têm aquele cansaço atávico do mundo, das pessoas, das concretudes. Me peguei rindo. O que será que fariam nessa ou naquela situação? Certamente o sarcasmo e a ironia seriam bons companheiros. 

E os sistemáticos virginianos, como lidariam com as surpresas no caminho? E os capricornianos, tão raiz e terra, como se apegariam a cada pedaço de chão? Os piscianos, bons de papos e de aventuras? E os leoninos, como eu, agiriam da mesma forma que meu alterego peregrino, mochilão nas costas e pernas já caminhando para uma nova jornada? No fundo, cada um de nós, independentemente da brincadeira de signos e oráculos, acha um jeito de seguir adiante. Eu tenho aprendido que peso em excesso adoece corpo e alma. Se você não se liberar dele, ninguém mais o fará por você. Cada um deve jogar seu lixo fora. Pode ser uma lição simples, mas às vezes demoramos uma vida inteira para aprender. Volto mais leve e com a certeza de que o caminho continua. Quem sabe até encaro um percurso mais longo, o Francês, dos Pirineus até Santiago de Compostela. Alguém se anima? 

 

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