EDUCAÇÃO

Artigo: educação como resposta aos desafios mundiais

Durante a 3ª Conferência Mundial de Educação Superior da Unesco, a educação foi apontada como ferramenta para reduzir a vulnerabilidade social e sanitária

LÚCIA TEIXEIRAEducadora
postado em 29/05/2022 06:00
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

O mundo enfrenta uma série de desafios sem precedentes, do aumento de vulnerabilidade social e sanitária, por causa da pandemia, à crise climática, que ameaça a própria sobrevivência da nossa espécie, sem esquecer da polarização política que, em várias partes do mundo, parece abalar democracias já estabelecidas. A educação superior é impactada por todas essas tendências, ao mesmo tempo que tem o dever de dar uma resposta a elas.

Para buscá-las, os principais líderes, gestores e pensadores da educação superior mundial estiveram reunidos por três dias em Barcelona, na Espanha, durante a 3ª Conferência Mundial de Educação Superior da Unesco, cujo tema foi A Reinvenção da Educação Superior para um Futuro Sustentável.

Como se reduz a vulnerabilidade? Com educação. Como reforçar a democracia e a sustentabilidade ambiental? Por meio da educação. Mas a educação não se produz sozinha, ela exige vontade e intencionalidade política. Quando falamos em educação para um mundo complexo e em transformação, não se trata de pensar apenas na criança e no jovem, mas no ser humano ao longo de toda a vida. Precisamos aumentar o acesso à educação superior, porque o desenvolvimento humano, social, econômico e ambiental depende disso.

No Brasil estamos muito abaixo do que seria desejável. Mesmo com o setor privado respondendo por 77,5% das matrículas na graduação, 84% em cursos de especialização e 31% na pós-graduação stricto sensu, a taxa de escolarização líquida no ensino superior é de apenas 17,8%, sendo que a meta do Plano Nacional de Educação é de 33% até 2024. Levamos para debate nesse encontro mundial propostas para a criação de uma política pública para garantir maior eficácia e eficiência ao ensino superior do país, a partir dos pilares da educação, da ciência e da internacionalização, e estimular a expansão do acesso ao ensino superior.

Elas abrangem a adoção, por exemplo, de sistemas de financiamento com pagamentos vinculados à renda do aluno, similares aos de Austrália, Inglaterra, Coreia do Sul e Japão, para permitir equacionar a necessidade de expansão do acesso ao ensino superior com as restrições do Orçamento público. Assim como a ampliação do Programa Universidade Para Todos (Prouni), um dos mais exitosos em permitir acesso ao ensino superior privado a jovens que não teriam essa oportunidade.

Temos de nos voltar, ainda, ao aperfeiçoamento da educação profissional e tecnológica, que envolve o estabelecimento de trajetória articulada entre a educação técnica e profissional e a educação superior, autorização de cursos em formatos de certificações intermediárias e a criação de um sistema dual flexível de formação escola-empresa, aproximando as experiências de sala de aula da realidade do mundo do trabalho.

Também é fundamental a formação de professores, com a inter-relação da educação superior com a educação básica, por meio de um olhar sistêmico para fatores que devem estar presentes em todas as formações docentes, promovendo revisão em todos os níveis de ensino. Assim como o apoio à ciência e à internacionalização por meio de investimentos e de decisões de longo prazo que permitam avanços nessas áreas estratégicas.

No mundo todo, a pandemia afetou desproporcionalmente os mais vulneráveis e expôs as desigualdades. Trabalhar para fazê-las desaparecer será mais um dos nossos desafios. No Brasil, quando a economia voltar a crescer, precisaremos de profissionais qualificados, mas vamos esbarrar na falta de capital humano. Temos que aumentar o acesso, qualificar, proteger os mais vulneráveis e aumentar a produtividade.

Políticas educacionais devem estar alinhadas a ambientes em que todos estejam voltados à inovação. Novos modelos de organização acadêmica exigem o uso intensivo das tecnologias, e os educadores têm importante papel na busca de soluções para o avanço de cada instituição e do país. Cada vez mais, a escola deve ser um espaço de transformação digital, aberto ao diálogo com outras instituições, que possibilite a formação dos indivíduos como cidadãos na sua plenitude e assegure a formação do capital humano fundamental ao desenvolvimento. Os debates em Barcelona evidenciaram que apenas superando os atuais desafios e compartilhando saberes e esperança conseguiremos fazer a nossa parte para, de fato, podermos celebrar a educação como maior patrimônio da humanidade.

 

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