abuso sexual

Análise: Muito além do Maio Laranja

Todos os dias, crianças e adolescentes sofrem abusos sexuais neste país. Na imensa maioria das vezes, os predadores são integrantes da família, como pais, padrastos, mães, madrastas, irmãos, primos, tios, avós — o que torna o crime ainda mais sórdido. Na lista de principais abusadores aparecem, também, pessoas de confiança do núcleo familiar: vizinhos, amigos, educadores, médicos, líderes religiosos. Raramente os estupradores são desconhecidos.

Há outras vertentes igualmente repulsivas nessa barbárie. Quando cometidos por familiares ou parentes, os abusos, não raro, acabam encobertos. Um pacto de silêncio para "preservar" a estrutura familiar. Também é comum as vítimas serem desacreditadas ao revelarem a violência. Em janeiro último, por exemplo, um avô, em Minas, foi condenado por estupro de vulnerável contra três netas. A sentença se estendeu aos pais das meninas, que sabiam do crime e se omitiram de denunciar. Uma das crianças disse, em juízo, que a mãe não acreditava no que ela contava. Outra testemunha afirmou no tribunal que o pai também classificava de invenções os relatos das filhas. Inimaginável o sofrimento a que essas meninas foram submetidas por mais de um ano!

Este mês, batizado de Maio Laranja, é dedicado à conscientização sobre o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes. Mas as atrocidades contra meninos e meninas têm de ser combatidas todos os dias, o que, infelizmente, estamos a anos-luz de fazer.

Proteger crianças e adolescentes deve ser missão prioritária de todos nós. Tanto com vigilância em casa quanto fora dela. Quando as vítimas revelam o crime, é preciso acreditar nelas, apoiá-las, fazê-las se sentir seguras. E, claro, denunciar o abusador, o que pode ser feito pelo Disque 100, o aplicativo Proteja Brasil, o site Humaniza Redes ou conselhos tutelares e polícia.

O Estado é o mais inerte ante tamanha perversidade. Não basta anunciar ações apenas no Maio Laranja. As medidas têm de ser efetivas e adotadas diariamente. São necessários investimentos na proteção desse público, em campanhas abrangentes de conscientização, programas de atendimento às vítimas e, obviamente, a punição rigorosa dos culpados. É um chamamento a todos. Cada um fazendo a sua parte pela segurança de meninos e meninas.

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