Turiba
Que alegria dar de cara com o Luiz Turiba no CB. Figura ímpar, cheio das ideias delirantes (no melhor sentido da palavra). Trocadilhesco dos maiores, ligado a tudo que rolava nas asas do Plano Piloto... Libertário de marca maior, cheio de bric-a-bracs, incisivo em seus foto-poemas. Sempre que entro num sebo, procuro: — Tem livro do Turiba? — Quem? — Ah, não é do seu tempo. Macuinizou-se. Seus gritos de guerra eram puro sugar-love. Os ideogramas tingiam o céu de vermelho-brasa. Seu negócio era o ócio, o ócio, o ócio. Pound e Sra. pop. Ogum no ilê, seus poemas são pura farofa de dendê. Pra ele, tudo era Exu: na poesia, no cerrado, nos ventos que virão. Desde os anos 1980, era conectado por fios e luzes. Ascendente em Glauber, signo nos eclipses e ascendente nas galáxias. Ho-chi-ni-mim, zumba-lelê, Raoni. As pedras nada sabem, mas não se vergam. Sempre soube que a diferença é que nos une. Já antevia que a internet mudaria as relações entre as pessoas para sempre. "Quase não falam, penetram nessa onda de uma nova era com fios de fé, na frequência de luz, nesse rumo cibernético"... Sua galera: cabeças marginais e corpos performáticos, argonautas da rodoviária, beirutianos bacantes e brincantes, hierofantes do Grande Circular e malabaristas do sinal. Tribos e trupes de legionários urbanoides e transcênicos. Profeta do Caos, já avisava: — Ou a gente se Raoni ou a gente se Sting! Viva Luis Turiba! Viva a Bric-a-Brac!
Thelma B. Oliveira,
Asa Norte
Rio entregue à violência
Em 24 de maio, ocorreu mais uma trágica operação policial no Rio, na Vila Cruzeiro, com 25 pessoas mortas. A mais letal depois da de Jacarezinho, em 6/5/2021, que vitimou 28 pessoas. A polícia do Rio é a mais letal do Brasil. Das 6.416 mortes violentas ocorridas em 2020 no país, por incursões policiais, 1.212 se deram no estado do Rio, ou seja, 20% do total. Em um ano de gestão do governo Cláudio Castro (PL), ocorreram mais de 200 mortes em 40 operações. Mas qual o resultado prático dessas operações? Elas não têm resultado significativo. A polícia faz isso uma ou duas vezes por ano, muita gente morre, mas os morros continuam ocupados pelo tráfico, enquanto mais de 50% do território do município vive sob o controle das milícias. É óbvio que esse modelo de ação policial, baseado no confronto armado com o crime em áreas habitadas, não funciona. Além de não resolver o problema, essas ações elevam o risco de vitimar pessoas sem relação com o conflito e policiais e afeta o funcionamento de serviços, como escolas. Sem dúvida, o melhor período vivido pelo Rio foi com a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora, UPPs, pelo ex-secretário de segurança José Mariano Beltrame, inspirado em modelo colombiano. Os homicídios caíram de 37,8 por grupo de 100 mil habitantes, em 2007, para 18,5 em 2015. Mas a má gestão e a corrupção no governo Sérgio Cabral detonaram as UPPs. As favelas precisam ser tratadas como bairros do Rio e não como zona de confronto. A presença permanente do Estado nessas áreas, com serviços integrados de segurança, educação, saúde, transporte, cultura e esporte é o único caminho para levar paz ao Rio, dar cidadania e segurança à população dos morros e da periferia e impedir que o tráfico e as milícias controlem esses territórios.
Ricardo Pires,
Asa Sul
Petróleo
Muito se escreveu sobre efeitos e expectativas de prosperidade com as descobertas de recursos naturais, sobretudo de petróleo. Na maioria dos casos, ao contrário do que diz o senso comum, elas provocam menor crescimento e geram problemas sociais. É o que se chama de "maldição dos recursos naturais" ou também "maldição do petróleo". O FMI estudou o fenômeno em 2017. Citou como exemplo o que ocorreu em Gana, alvo de uma onda de otimismo. Grandes reservas de petróleo e gás foram encontradas entre 2007 e 2010. A bonança deu origem a imprudência, excesso de gastos e, por fim, dívida. O Brasil viveu situação semelhante com as descobertas do "ouro negro" na plataforma de Campos e depois no pré-sal. O pré-sal deu origem a más políticas econômicas. De quebra, houve o esquema de corrupção organizada. A maldição do petróleo costuma ocorrer em países onde as instituições são fracas, assim falhando em inibir ações irresponsáveis. A Venezuela, infeliz exemplo, desarranjou-se a partir de 1999 com Hugo Chávez e ultimamente com Nicolás Maduro. Já os países dotados de instituições fortes escapam da maldição, gerenciam bem a economia e transformam descobertas em bênçãos. No Brasil, uma diminuta parte dos recursos do pré-sal se destina a um fundo social. São elevadas as pressões para usá-los em mais gastos e transferências a estados e municípios. Felizmente, nossas instituições, incluída a imprensa, são sólidas e podem limitar experiências ruins e, quem sabe, tornar nosso petróleo uma benção.
Renato Mendes Prestes
Águas Claras
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