educação

Análise: Um olhar para a juventude

Correio Braziliense
postado em 02/06/2022 06:00
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

MOZART NEVES RAMOS - Titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados da USP de Ribeirão Preto

Quando um jovem abandona a escola, quem perde é o futuro da nação. No Brasil, são quase 500 mil jovens que deixam a escola por ano — é quase um jovem por minuto. Isso não só é muito triste como extremamente preocupante. O direito à educação não logrou êxito. Considerando que em média, por ano, um estudante de ensino médio custa R$ 6.500, isso significa, fazendo uma conta de padeiro, que o país perde mais de R$ 3 bilhões de reais só com o abandono escolar nessa última etapa da educação básica. Mas o Brasil perde muito mais se olharmos o custo social que o abandono representa. O caminho mais frequente é o de engrossar as fileiras dos chamados nem-nem, que nem estudam nem trabalham. Disso resulta o ócio que leva muitas vezes a caminhos tortuosos, vinculados à droga e ao tráfico. Não é à toa que há uma relação direta entre a taxa de jovens nem-nem e a relacionada ao homicídio juvenil.

As razões mais frequentes para esse abandono no ensino médio estão vinculadas à busca por atividade laboral, à gravidez e ao desinteresse escolar. Sobre a primeira razão, a pandemia causou um impacto importante, pois os jovens foram muito pressionados a buscar trabalho para compensar a perda de renda familiar. Para piorar, agora a inflação chega com toda a força, tirando o prato de comida das famílias mais pobres, o que leva também os jovens a buscarem trabalho — e isso compete com a escola. Como esses jovens não foram preparados com a formação adequada para o mundo do trabalho, muitas vezes essas atividades laborais são precárias e de baixíssima remuneração.

Quanto ao desinteresse escolar, o jovem quer uma escola que caiba na vida, que seja capaz de dialogar com o seu mundo. E ele não encontra isso na escola atual. Estamos esperançosos de que o chamado novo ensino médio proporcione esse diálogo do jovem com a escola. Mas, mesmo antes do novo ensino médio, o Brasil já vem implementando o modelo pernambucano das chamadas Escolas de Ensino Médio de Tempo Integral (Emti) — o que não significa apenas mais tempo na escola, pois mais tempo numa escola chata é castigo para o estudante, mas uma escola que implementa o tempo integral com educação integral, cuidando assim do desenvolvimento pleno do estudante, em consonância com o que apregoa o artigo no 205 da Constituição Federal. Esse modelo levou Pernambuco, em 2007, das últimas posições no ranking nacional do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para as primeiras posições desde a edição de 2015. A taxa de abandono escolar é próxima de zero, e hoje o estado já tem quase 60% da rede escolar de ensino médio de acordo com esse modelo.

Mas não basta ter apenas uma boa escola de ensino médio. É preciso ter uma política de pós-médio, caso contrário o ensino médio é o teto para os jovens que o concluem, e assim apenas se adia o ingresso nos nem-nem. Isso passa por uma formação técnica profissionalizante. Para isso é importante oferecer uma formação alinhada com as necessidades da cadeia produtiva local, para que, após o término dessa formação, a possibilidade de o jovem ter empregabilidade seja maior. É importante lembrar que, de cada 100 jovens que concluem o ensino médio, apenas 22 vão para o ensino superior. Assim, é importante pensar nos 78 jovens que eventualmente vão precisar dar continuidade aos estudos ou buscar alguma atividade laboral — mas, para isso, é preciso que estejam bem preparados. Comparados aos que concluíram o ensino médio, mas não tiveram uma formação técnica profissionalizante, esses jovens que obtiveram uma certificação nessa modalidade ganham 15% mais em renda.

Pensar na nossa juventude é pensar no futuro do país. É importante lembrar que a pirâmide demográfica está mudando drasticamente. Sua base está ficando mais estreita, enquanto o topo se alarga e cresce. Para sustentar essa pirâmide, vamos precisar mais do que nunca de jovens muito bem formados. O Brasil não pode se dar ao luxo de perder nenhum de seus jovens, caso queira sonhar com um futuro sustentável, assim como fez a Coreia do Sul, que, ao perceber tal mudança, investiu maciçamente em educação, chegando a criar o slogan "febre de educação" para mobilizar o país em prol dessa causa. Enquanto isso, nosso país dá prioridade à educação domiciliar.

(Este artigo é dedicado aos 28 anos de vida de minha querida filha Marília Torres Ramos.)

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