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Artigo: Reajuste dos planos de saúde — a política por trás dos preços

Correio Braziliense
postado em 09/06/2022 06:00
 (crédito: Maurenilson/CB/D.A Press)
(crédito: Maurenilson/CB/D.A Press)

FÁBIO GONÇALVES — Diretor técnico na Aliança para a Saúde Populacional (Asap), diretor executivo de valor e acesso no Hospital Care, CEO e cofundador da Excella

A descontinuidade de tratamentos crônicos, diminuição de ações de prevenção e promoção, incluindo ações de diagnósticos precoces contribuíram para o reajuste de 15,5% nos planos de saúde individuais e familiares em 2022. Além disso, os efeitos econômicos decorrentes da pandemia de covid-19, principalmente durante os anos de 2020 e 2021, também influenciaram. Nesse contexto, é importante deslocar o foco da discussão dos "sintomas" para as verdadeiras "causas" do aumento, ou seja, quais as alavancas que devidamente gerenciadas poderiam mitigar a tendência de elevação dos custos assistenciais ao longo do horizonte temporal.

As organizações precisam, constantemente, buscar a eficiência da gestão dos recursos financeiros e, ao mesmo tempo, melhores resultados em saúde, sempre com foco em um cuidado assistencial de boa qualidade e a um custo adequado. É necessário atuar firmemente contra a utilização inadequada de serviços e procedimentos que o setor ainda pratica, reduzindo as variações não justificadas do cuidado. Ou seja, precisamos de modelos bem-sucedidos para combater a ineficiência existente entre os agentes, em prol de maior sustentabilidade do setor de saúde, direcionando o foco de modelos de pagamento de serviços de saúde específicos (que privilegiam o volume de procedimentos e não a qualidade e benefício ao paciente) para modelos de remuneração orientados para a gestão da saúde populacional (ou seja, novas formas de remunerar, baseadas em valor, que privilegiem a qualidade dos serviços prestados e não se baseiem exclusivamente na redução dos custos).

Portanto, uma agenda estratégica pautada num planejamento de longo prazo é essencial para que as empresas consigam adotar táticas eficientes de gestão de saúde populacional em seus segmentos específicos de populações. Quanto mais cedo a organização conseguir alinhar internamente uma visão unificada de uma agenda de saúde, maiores serão as chances de gerenciar eficientemente as alavancas que impactarão na redução do desperdício dos recursos, na melhoria da qualidade do cuidado e melhor experiência dos seus colaboradores com o sistema de saúde.

Um cuidado especial deve ser tomado para que estratégias de controle dos preços de planos de saúde no curto prazo não ocorram às custas de um acesso futuro, ou seja, da capacidade das pessoas de obterem os serviços necessários no lugar e no momento certo. Caso contrário, continuaremos assistindo à elevação dos custos no longo prazo e seus respectivos reajustes.

Se, por um lado, algumas modalidades de remuneração dos serviços de saúde pautadas no compartilhamento de riscos podem colaborar na redução da tendência dos custos assistenciais no médio e longo prazo, reduzindo o desperdício e melhorando a qualidade do cuidado; por outro, caso incentivem uma absorção assimétrica dos riscos entre os stakeholders envolvidos e não considerem a mensuração dos desfechos que realmente importam para os pacientes e famílias, poderão ter efeito oposto, penalizando a qualidade do cuidado entregue ao beneficiário.

Exemplo de ótima ferramenta de gestão, mas, se mal utilizada, poderá atrasar ações de saúde preventivas é a coparticipação em consultas e exames, que deve ser usada de forma a gerenciar abusos, mas não evitar cuidados.

O engajamento do setor é crucial para superar uma necessidade histórica, ainda não atendida, de uma coordenação e manejo efetivos do cuidado longitudinal dos pacientes, reforçando a musculatura do sistema na transição para um sistema de cuidados baseado em valor, mudando o foco de fornecer serviços específicos de forma eficiente para fornecer assistência longitudinal ao paciente de forma eficaz.

 

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