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Análise: Celebremos os filhos da terra

O Brasil foi um dos primeiros destinos dos emigrantes portugueses, e é hoje um caso singular nesse contexto

Correio Braziliense
postado em 10/06/2022 06:00
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

MARIANA VIEIRA DA SILVA — Ministra da Presidência do Governo de Portugal

O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas trouxe-me este ano, uma vez mais, até o Brasil para celebrar essa importante data junto da comunidade de portugueses e luso-descendentes que aqui se instalaram, constituíram família, criaram laços, desenvolveram as suas atividades profissionais, tornando-se verdadeiros "filhos da terra".

O Brasil foi um dos primeiros destinos dos emigrantes portugueses, e é hoje um caso singular nesse contexto. Pela quantidade, pois a nossa comunidade neste país (em torno de 1 milhão de portugueses e luso-descendentes) se conta certamente entre as três mais numerosas no mundo, mas sobretudo pela exemplar integração nas sociedades que os acolhem, pela renovação geracional que ao mesmo tempo que traz sangue novo acrescenta valor a áreas como a cultura ou a economia.

Essa será, aliás, uma característica comum a ambos os povos. Tanto os portugueses no Brasil quanto os brasileiros em Portugal integram-se verdadeiramente nas comunidades que os acolhem, sem perder o elo com a pátria e contribuindo de forma ímpar para o desenvolvimento e progresso do país de acolhimento.

Se a história da emigração portuguesa no Brasil é uma história de sucesso, devemo-la não só ao espírito de abertura, capacidade de trabalho, sentido cívico e resiliência do povo luso mas também, e em grande medida, à forma calorosa, generosa e inclusiva como os portugueses aqui são recebidos.

Ainda que nos separe um oceano e a linha do equador, somos povos abertos ao mundo e ao outro e que, partilhando a história, a cultura e a língua portuguesa, nunca nos sentimos estrangeiros no país irmão. É esse sentido de pertença e de comunhão que o 10 de junho celebra, prestando justa homenagem a todos os portugueses que levaram mais longe a nossa cultura, os nossos costumes, a nossa história, a nossa língua e os nossos saberes. 

Na minha primeira visita oficial ao país, em 2018, pude testemunhar a forma exemplar como a comunidade portuguesa se integrou na sociedade, constituindo um ativo de grande valor nas mais diversas dimensões da vida coletiva, e contribuindo decisivamente para o fortalecimento das relações entre os dois países. 

E testemunhei também como a perceção do nosso país no Brasil tem mudado. Graças ao trabalho das comunidades e aos esforços diplomáticos desenvolvidos nas últimas décadas, Portugal é hoje visto como um país moderno, competitivo e tecnologicamente avançado. Portugal é hoje um país atrativo para os brasileiros de todas as idades e condições econômicas, o que se comprova no fato de o Brasil ser atualmente o principal mercado turístico emissor de fora da Europa e constituir a principal comunidade estrangeira a residir no nosso país.

Os fluxos migratórios e turísticos são, portanto, cada vez mais intensos. Não devemos, aliás, falar hoje de emigração ou imigração, mas antes de mobilidade entre Portugal e Brasil, com quadros cada vez mais qualificados a procurarem oportunidades de trabalho e a encetar ambiciosos projetos de vida, de um ou de outro lado do Atlântico, sem hesitações, gozando das vantagens da língua policêntrica que todos partilhamos.

Portugal e o Brasil compartilham um relacionamento único que vem sendo aprofundado, não apenas no plano diplomático e econômico, mas também numa multitude de domínios que vão da cultura à ciência, passando pela tecnologia, comunicação, saúde, ambiente e agricultura.

Os dois países mantêm igualmente uma cooperação estreita em matérias de defesa, segurança e justiça, assumindo o Brasil uma relevância estratégica fundamental em diferentes eixos da política externa portuguesa: o espaço transatlântico, a lusofonia, a internacionalização da economia e o multilateralismo.

Este é um ano em que esses laços saem ainda mais reforçados, com a realização de várias visitas oficiais por parte de representantes do Estado português e a participação nas celebrações do Bicentenário da Independência do Brasil, uma festa brasileira em que Portugal não deixará de marcar uma presença muito visível.

E não posso deixar de assinalar esta data sem falar naquele que é o nosso mais valioso bem comum: a língua portuguesa. Esse é um patrimônio inestimável que os emigrantes e luso-descendentes espalhados pelo mundo têm sabido estimar e preservar e que todos nós devemos cultivar.

Essa será, porventura, a melhor forma de enaltecer Luís de Camões, poeta maior da nossa língua e cuja inspiração permanece bem viva nas histórias individuais de cada um dos compatriotas espalhados pelo mundo. São as suas histórias de perseverança, tenacidade e ousadia que hoje importa lembrar e festejar. Celebro este 10 de Junho no Brasil com muita alegria. Viva a língua portuguesa, viva o Brasil, viva Portugal!

 


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