O Brasil tenta vender, há pelo menos 30 anos, a imagem de que zela muito bem pela Floresta Amazônica. O país recebeu diversos eventos de ponta e aproveitou para alimentar discursos para inglês ver. Foi assim, por exemplo, na Rio 92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. O esporte também serviu para disseminar a propaganda enganosa de um país comprometido com a biodiversidade. Basta lembrar o conteúdo das cerimônias de abertura do Pan do Rio-2007, Copa de 2014 e Olimpíada do Rio-2016. Tudo muito bem embalado artisticamente para passar ao mundo a impressão de que estava tudo bem.
A referência à Amazônia era obrigatória no roteiro dos megaeventos esportivos bancados com dinheiro público. A abertura do Pan-2007 teve luzes verdes invadindo o Maracanã para representar o florescimento da vida por meio das matas e da rica flora e fauna do Brasil. Um carro alegórico em forma de jacaré todo articulado surpreendeu o respeitável público. Tudo bolado por especialistas do Festival Folclórico de Parintins. A composição O Trenzinho do Caipira, de Heitor Villa-Lobos, sensibilizou e levou parte da plateia às lágrimas.
Aí veio a Copa em 2014. A escolha das cidades-sede foi estratégica. Ao incluir Manaus e Cuiabá, o Comitê Organizador Local e a Fifa colocaram a Amazônia e o Pantanal na vitrine. Na cerimônia de abertura, a cultura indígena recebeu atenção especial. Um artista vestido a caráter remou no gramado da Arena Corinthians, como era chamada à época. O barco era carregado por dançarinos e a cena representava a água de um rio.
A Olimpíada do Rio-2016 foi outro palanque para discursos vazios. Cenas como o surgimento das florestas brasileiras e a formação dos povos indígenas encantaram. A paz e a sustentabilidade foram representadas por uma árvore. Houve exibição de um vídeo interpretado pela atriz Fernanda Montenegro:
"As alterações climáticas e o esgotamento dos recursos naturais precisam da nossa atenção e a cerimônia de abertura olímpica é uma oportunidade maravilhosa para destacar esse assunto. O Brasil, com a maior floresta e a maior reserva de biodiversidade do planeta, é o lugar certo para que esta mensagem se espalhe. É hora de começar a curar o planeta. Terráqueos, vamos replantar, vamos salvar o planeta", encerrava o alerta mundial, no Maracanã.
O verde tão exaltado e defendido nas cerimônias politica e ecologicamente corretas do Pan, Copa e Olimpíada no Brasil está manchado de sangue. O jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Araújo foram mortos a tiros, esfaqueados, queimados e enterrados. Os relatos são de que o inglês colhia entrevistas para a produção do livro Como Salvar a Amazônia. Certamente não é executando quem estava ali para apurar a mentira que os homens — e as cerimônias esportivas — contam. Sigo preferindo os livros às armas de um crime brutal.
Saiba Mais
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.