Em terras semeadas pela classe política nacional, basta um golpe de enxada na terra inculta, para surgirem indícios de que há muito mais nesse campo arado do que se pode esperar. É como dizia o filósofo Mondubim: "A cada enxadada, uma minhoca". Portanto escarafunchar a vida dos principais políticos nacionais, nunca é um exercício em vão. Há sempre a produção de surpresas, apontando para aldrabices e outras maquinações que desembocam sempre no pardieiro da corrupção.
A terceira instância do Judiciário até que tenta ajudar para que essas surpresas não resultem em punição para seus autores, mas são tantas as evidências, acumulando num crescendo tão febril, que fica, cada vez mais, difícil esconder do olhar do público, as montanhas de provas varridas para debaixo dos luxuosos tapetes caríssimos. Os órgãos de investigação, há muito, perceberam que não é preciso sequer seguir esses meliantes, basta ir atrás do dinheiro.
Foi o que aconteceu no caso das malas, contendo mais de R$ 50 milhões, encontradas em um apartamento em Salvador, que servia como uma espécie de agência informal de pagamento de propinas. Foi o que ocorreu também com outra mala, de grife famosa, dessa vez contendo a módica quantia, para os padrões nacionais, de R$ 500 mil, transportada pelo assessor especial de um ex-presidente, propina essa recebida da notória J&F. Em junho de 2016, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, três pesadas malas, que não passaram pelo exame de raios X, foram interceptadas quando o jatinho particular levava um ex-presidente para Roma.
A operação, deflagrada pela Polícia Federal, foi abortada por ordens superiores e o caso foi também varrido para debaixo dos tapetes dos chiques gabinetes de Brasília. Os desvios de dinheiro público são tantos e em tão grande volume que não bastam caixas de uísque outras embalagens pequena, mas muitas malas.
Fossem dadas enxadadas em paraísos fiscais em outros países que fazem vista grossa para essa dinheirama surrupiada, bilhões de minhocas saltariam para fora da terra, com as mãos para o alto. Guiam, esses nada nobres senhores, a famosa senha que diz: "Se mais dinheiro houvera lá chegara". Nem bem o defunto da Lava-Jato esfriou, nova enxadada, dada pela Polícia Federal, fez surgir outras minhocas, e um novo escândalo parece se erguer no horizonte. A Justiça de São Paulo anda às voltas agora com um curioso caso envolvendo lavagem de grandes somas de dinheiro, pelo PCC, poderosa organização criminosa, cada vez mais onipresente dentro da máquina do Estado, o PCC.
Mais de R$ 45 milhões em imóveis e veículos foram apreendidos, levando a polícia ao contador João Muniz Leite, como definiu a imprensa, um técnico em transformar dinheiro sujo em recursos limpinhos. Ocorre que o tal contador — olha aí a minhoca — foi o responsável por fazer a declaração do Imposto de Renda de famoso ex-presidente por anos, sendo que até hoje maneja a contabilidade da alma mais honesta desse país.
Outras enxadadas revelaram ainda que o tal contador divide sala com empresas do craque das finanças, o filho desse mesmo ex-presidente. É preciso agora que a junta dos mais caros escritórios de advocacia do país cuide logo de entrar em campo, isso é nos gabinetes de Brasília, para salvar, mais uma vez, esse senhor e sua família, de preferência antes das próximas eleições.
Nesse caso também, os prognósticos sobre os resultados dessa investigação são sombrios e incertos. O mais provável é que todo esse novo movimento de enxadada acabe lá adiante, interrompido por uma canetada, dada por aqueles que estão onde estão para que tudo fique como sempre foi. Dizer o quê?
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