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Artigo: Vamos continuar caindo

Correio Braziliense
postado em 24/06/2022 06:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

GILSON ESTEVES - Engenheiro eletrônico e CEO da Tecnosenior

O 24 de junho consta no Calendário da Saúde do Ministério da Saúde (MS) como o Dia Mundial de Prevenção de Quedas. Criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a data serve para alertar pessoas de todas as idades, mas principalmente os idosos sobre os riscos de queda. Devemos aproveitar a data para divulgar o quão comuns e perigosas são as quedas em idosos. A ponto de ser tratada como pandemia pela OMS.

Uma estimativa feita pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) aponta que entre 32% e 42% dos idosos com mais de 75 anos sofrem com quedas, enquanto os idosos com mais de 65 anos permanecem na faixa entre 28% e 35%. Para complementar esses dados da SBGG a respeito da geração platinada, trago um estudo publicado pela Revista de Saúde Pública, de São Paulo, em 2002. Na ocasião, a pesquisa revelou que 31% dos idosos disseram ter caído no ano anterior ao levantamento, e 11% afirmaram ter sofrido duas ou mais quedas.

Ao procurarmos na internet sobre quedas de idosos, a quantidade de artigos encontrados será assombrosa. Quase a totalidade fala na prevenção de quedas e, consequentemente, nas causas e como preveni-las. Evitar as quedas é o mais importante, e isso pode ser feito de diferentes formas: priorizar a segurança da casa, removendo os objetos que podem causar quedas; exercitar a musculatura; e tomar mais cuidado quando estamos sob o efeito de alguma medicação que pode influenciar no equilíbrio.

A realidade, porém, é que mesmo que se tomem todos os cuidados, existirá uma grande probabilidade de pessoas com mais idade caírem. Tão simples como sabemos que uma criança aprendendo andar, ou nas brincadeira infantis, cairá certamente. Já caímos muito — quando crianças — e ainda vamos continuar caindo, mesmo na velhice.

Assim, devemos levar em consideração as principais diferenças na queda de um idoso na comparação com a de uma criança. Conseguir levantar. Chamar ajuda. E, principalmente, ter alguém por perto para acudir. Crianças pequenas mal começam a berrar depois de uma queda e já vem um adulto correndo para ver o que aconteceu. Os traumas em uma criança que cai são muito menores do que os de um idoso. Mas o mais importante é a agilidade de conseguir levantar e pedir ajuda.

Com o aumento da longevidade e idosos cada vez mais independentes e saudáveis, é compreensível que queiram continuar morando em suas casas, sozinhos, com o cônjuge ou um familiar. Esse desejo de continuar em suas casas gerou um movimento que está ganhando força em todo o mundo, chamado de Aging in Place (envelhecimento no local). O conceito foi muito bem retratado em 2009, no clássico filme da Disney Up — Altas aventuras, ao contar a história de Carl Fredricksen que, aos 78 anos, está prestes a perder a casa em que sempre viveu com a esposa.

Mesmo morando na companhia de mais uma pessoa, o idoso nem sempre terá alguém ao seu lado durante 24 horas. Em uma eventual situação de queda, ele poderá não conseguir levantar (ou terá sérias dificuldades) nem conseguir chamar ajuda. Somente o fato de permanecer no chão pode acarretar uma série de consequências graves, como atraso na recuperação, sequelas e, eventualmente, até levar o idoso a óbito.

"O fulano caiu duro", para expressar a morte de alguém, era uma gíria muito usada antigamente. Quando falam na morte por quedas, na maioria das vezes, a pessoa não cai morta. Ela morre por consequência da queda. E o falecimento está diretamente relacionado ao tempo em que ela permanece no chão. Cair sozinho mata.

Nos Estados Unidos, um terço dos idosos que caem permanecem no chão por mais de uma hora, trazendo complicações de saúde que resultarão na morte de mais da metade dessa proporção. A morte devido a quedas para adultos com mais de 60 anos nos EUA aumentou 30% de 2007 para 2016. Se as taxas continuarem crescendo nessa ordem, em 2030 teremos sete mortes por queda a cada hora. Esses números não são muito diferentes da realidade no Brasil. Em 2012, uma pesquisa da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo revelou que morriam quatro idosos por dia em consequência de quedas da própria altura. Repetindo: por dia.

De acordo com a equipe de Geriatria do Hospital Sírio-Libanês, a queda é a principal causa de morte acidental entre os idosos e é considerada um problema de saúde pública. As quedas de idosos estão entre as principais ocorrências atendidas pelo Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre. No período compreendido entre 1º de janeiro e 24 de junho de 2021, foram 1.704 casos com vítimas acima dos 65 anos, dos quais 22 faleceram.

Ao encontro do que representa a conscientização trazida pelo Dia Mundial de Prevenção de Quedas, destaco, também, a contribuição que vem sendo dada por meio da tecnologia, a qual oferece diversos dispositivos focados na assistência dos idosos em situações de emergência. Lembrem-se: todos nós caímos, mas o importante é conseguir receber ajuda. Cada segundo importa porque uma coisa é certa: vamos continuar caindo.

 

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