Cabra-cega

Existe de fato um vasto campo estrategicamente minado, separando os cidadãos eleitores e os candidatos, sobretudo aqueles que aparecem no topo das pesquisas. À semelhança ao que ocorria na antiga brincadeira de criança chamada de cabra-cega, os eleitores entram nesse processo de campanha sem enxergar ou ouvir o que ocorre diante deles. Ainda não existe a terceira via para se contrapor ao que se vê nos extremos, como também não há, por parte dos candidatos desejo algum de externar o principal elemento de toda e qualquer campanha eleitoral, que são os programas de governo.

Há um vazio de propostas e projetos para o enfrentamento dos reais problemas da nação, que são muitos e complexos. Não bastasse esse deserto de ideias e de candidatos, realmente devotados às causas públicas, por meio de currículos e ações, os cidadãos que conseguirem vencer esse terreno cheios de armadilhas, chegando vivos e salvos até a cabine das urnas, terão que enfrentar e superar uma montanha de obstáculos colocados ao longo do tortuoso caminho.

Instituições que deveriam ser apartidárias poderiam contribuir muito para a informação dos eleitores, tornando-os mais esclarecidos e cautelosos. Mas parece que escolheram o caminho mais fácil ao se aliar a um e a outro lado.

No meio desse verdadeiro banzé, os candidatos mais cotados ainda se dão ao desplante de anunciar, publicamente, que não irão aos debates, públicos. O tão zeloso e, ao mesmo tempo, desútil Código Eleitoral não obriga os candidatos se submeterem aos debates, o que, de certa forma, ajuda a esconder dos leitores, aqueles postulantes ao mais alto cargo da República, que não serviriam nem para porteiro de bússola.

O pior, se é que isso ainda seja possível, no caso das próximas eleições, é que os ataques, vis a vis, ao esconder a fragilidade dos candidatos, ainda reforçam, de forma vil, o extremismo e as lutas fratricidas. A imagem é perfeita: enquanto os urubus distraídos brigam ferozmente pela carniça, a onça e raposa, que a tudo, ardilosamente espreitam, cuidam de comer a todos. Somem-se ainda a esse campo minado o fato de se ter elevado ao altar de adoração assuntos ainda bastante discutíveis, tornando esse mecanismo, asséptico, um item inatacável, dentro de regras absolutamente dogmáticas.

Com tudo isso, teremos que nos preparar para a mais surreal de todas as campanhas políticas experienciadas na história do Brasil. Os eleitores, colocados como protagonistas de segunda categoria, em todo o processo, têm duas opções pela frente: ou seguem como gado ordeiro rumo ao abatedouro, ou viram as costas para estas eleições, o que, nos dois casos, não resolveria nosso atual problema, que nesse caso, se resume em retirar a venda que cobre os olhos, saindo ileso desse jogo perigoso.