Ex-auxiliares são para sempre

Correio Braziliense
postado em 01/07/2022 00:01

Tudo que o presidente da República não necessitava neste momento era ter que engolir os casos espinhosos, quase simultâneos, envolvendo integrantes do primeiro escalão de seu governo. Nos dois casos, as acusações são sérias e podem, dependendo do andamento das investigações, resultar não só em prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, e do ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães, como respingar diretamente no governo, prejudicando uma possível reeleição do chefe do Executivo.

Nos dois casos, um envolvendo corrupção e outro o crime de assédio sexual, as acusações são pesadas e de difícil resolução sem uma apuração mais profunda e demorada, o que pode, facilmente, levar esses casos para além das eleições de outubro. Se foram uma estratégia política, deu certo. Observando esse imbróglio, do ponto de vista da oposição e tendo como pano de fundo o candidato das esquerdas, os escândalos, envolvendo os auxiliares direto do presidente da República, parecem delito menor. Agora, observando todo esse caso sob o ângulo da Justiça, principalmente das altas cortes, onde o presidente tem antagonistas visíveis e fidagais, todos esses casos podem descambar num ruidoso e desgastante processo, em que crimes como prevaricação e acobertamento de inúmeros casos anteriores de assédio podem ter sido praticados.

De todo o modo fica, mais uma vez, a lição a ser seguida na escolha criteriosa dos assessores que serão alçados ao primeiro escalão, pois a cara de um governo é exatamente a de seus ministros e auxiliares mais próximos. No caso do presidente da Caixa, a escolha foi pela competência profissional, que é incontestável. Não têm sido poucos os casos em que as debilidades de um presidente, ficam amortecidas e até não vistas, graças à excelência exibida por sua equipe direta. A questão aqui é que o mérito, ou não, fica sempre por conta de quem nomeou esses personagens, em ato público, com assinatura timbrada em documento oficial.

Outro problema que pode surgir desses eventos malfazejos é os personagens virem a ameaçar o governo e outras autoridades, com promessas de contar o que sabem e o que não sabem como fez Weintraub e Palocci. Esses e outros casos mal explicados podem ainda provocar problemas no futuro, uma vez que se sabe que ex-auxiliares próximos são como ex-esposas — são para sempre — e, na virada da esquina, podem muito bem voltar sua artilharia contra o presidente. O que não se pode, nos dois casos rumorosos do momento, é fingir que eles não dizem respeito ao Executivo, uma vez que são ex-auxiliares do governo, entregues ao critério da Justiça. A coisa não é assim tão fácil. Há laços e muitos laços a envolver quem fica e quem parte.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags