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Correio Braziliense
postado em 04/07/2022 00:01

Assim não vale

Tomo emprestada a canção Pessoa nefasta (1984), de Gilberto Gil, para ilustrar o tipo predominante de perfil político que ocupa os altos cargos da República: "Tu, pessoa nefasta/Vê se afasta teu mal/Teu astral que se arrasta tão baixo no chão/Tu, pessoa nefasta/Tens a aura da besta/Essa alma bissexta, essa cara de cão". No Brasil, o "governo" é feito justamente por esses eleitos nos quais votamos que, empossados, se divorciam de nós. Leitora crítica dos nossos tempos tão estranhos, Noélia Ribeiro cunhou o poema Até quando?: "Eu/tu/ela/nós sem/voz/Eles" (Assim não vale, 2022). A crescente violência política — intensificada após a destituição ilegítima da presidenta Dilma Rousseff (2016) e o assassinato da vereadora Marielle Franco (2018) —, a proliferação de desinformação, o silenciamento da sociedade civil organizada, o processo de criminalização de movimentos sociais e o ataque a jornalistas e às populações tradicionais estão restringindo o espaço cívico no Brasil. A violência política no país tem um recorte racial e de gênero. Discursos de ódio violam liberdades e direitos fundamentais. O espectro da "crise da democracia" se agita por todos os cantos. Antes de tudo, a democracia sente os efeitos da mercantilização geral da vida, da prevalência unilateral do mercado como cultura, fator de organização e valor. Tudo se converte num sistema de "trocas" e vantagens competitivas, dissolvendo as ações de tipo cooperativo. Os próprios custos das transações políticas são extrapolados e não ajudam a que se governe melhor. A democracia não é somente um "método" para que se tomem decisões coletivas e um sistema de representação baseado em normas e procedimentos. Também é um sistema de participação, que depende de cidadãos politicamente educados. A ditadura só favorece a disseminação de afetos violentos, discriminatórios, intolerantes e autoritários.

Marcos Fabrício Lopes da Silva,

Asa Norte

Devastação

Será que o resquício de água encontrado em Marte, ainda que imprópria para o consumo humano, não é resultado da mesma devastação que o nosso planeta sofre atualmente? Alegar que um asteroide colidiu com o planeta e exterminou qualquer possibilidade de prosseguimento de existência de vida é um desfecho fantasioso, mais condizente com a ficção. Seria muito ironia se um dia descobrissemos que o planeta Terra foi o "plano B" dos habitantes marcianos e, após um "apagão" de 4 bilhões de anos, fosse constatado que somos aquilo que procuramos. Considerando o importante papel das sondas, satélites, robôs e toda a sofisticada tecnologia empregada na tentativa de novas descobertas, visando à obtenção de algo concreto que mude radicalmente o conceito científico, penso que o nosso planeta tem mais respostas ocultas que o próprio vizinho investigado. Se a água de Marte realmente não servir aos nossos propósitos, o que faremos? Seguiremos para o próximo planeta? São tantas "travessias"...

Renato Mendes Prestes,

Águas Claras

Precisamos de paz

Logo depois da edição do Estatuto do Desarmamento (2003), as forças de segurança pública se empenharam, seriamente, na missão de desarmar a população. Havia até prêmio em dinheiro aos que entregassem suas armas à polícia. Os postos de coleta estavam espalhados por todo o país. Um ranking nacional apontava quais os estados e municípios com os números de artefatos coletados e o quanto o poder público havia desembolsado no pagamento pelas armas recebidas. Espalhava-se pelo país a ideia de que a posse de arma representava insegurança e risco de morte para o proprietário. As blitzes retiram das ruas milhares de artefatos bélicos. Caminhava-se no sentido de consolidar a ideia de construção de uma educação para a cultura de paz, em que armas não protegem, mas matam. Desarmar a população era medida essencial para conter a violência, evitar mortes e reforçar a responsabilidade do poder público pela segurança de todos os cidadãos. Hoje, vive-se a política do belicismo que só colabora para aumentar o arsenal dos grupos criminosos e garantir aos fora da lei o direito de se armarem e matarem indiscriminadamente. Vivemos tempos de horror e pânico. Isso precisa mudar. Os feminicídios aumentam a cada dia e são tragédias provocadas por armas brancas ou de fogo, sem chance de defesa para a mulher. Os lares vivem de luto. Os números de órfãos crescem exponencialmente sem que haja política pública contra a matança desenfreada. É preciso desmontar esse cenário e tentar reconstruir pilares e base para a pacificação. Arma não liberta ninguém. Elimina vidas e contribui para a opressão e a morte de inocentes, e impõe inquietude a todos. Precisamos de paz e ela não se constrói com armas. Necessitamos nos re-humanizar e respeitar o direito à vida.

Maria Amélia Vegas,

Asa Sul

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