Desafios da educação

Correio Braziliense
postado em 08/07/2022 00:01

Qualquer indivíduo que venha se sentar na cadeira de ministro da Educação, por mais preparado que esteja para o cargo, encontrará, ao examinar de perto essa missão, uma tarefa muito complexa e de proporções gigantescas. Sendo o quinto país em número de habitantes e em extensão territorial, o Brasil, por suas características continentais e diversidades regionais apresenta desafios imensos para a implementação de quaisquer políticas públicas, sobretudo quando se trata de assunto tão melindroso como a gestão de políticas educacionais.

Com 5.570 municípios, espalhados em 8,5 milhões de quilômetros quadrados, e com uma população de mais de 200 milhões de habitantes, qualquer política pública eficaz e justa tem, necessariamente, que lidar com essa realidade concreta, e ainda obedecer ao fato de que cada ente federativo é autônomo e com atribuições múltiplas e descentralizadas conforme estabelecidas pela Constituição atual.

Implementar serviços públicos de qualidade, num país tão complexo como o Brasil, onde existem diferenças fiscais de toda a ordem e onde variam também a capacidade de gestão de cada uma dessas unidades, não é, definitivamente, um trabalho para principiantes ou indivíduos sem o devido preparo e ânimo. Por mais complicada e difícil que seja a tarefa de implantar uma educação de qualidade e inclusiva no Brasil, todo o esforço se esvai se esse trabalho não começar pela qualificação e melhoria nos planos de carreira daqueles que atuam nesse setor, melhorando salários, incentivando cursos de aperfeiçoamento, além, é claro, de construir e equipar as escolas com tudo que seja necessário para o pleno desenvolvimento do ensino e da aprendizagem.

Nenhum esforço, por mais bem intencionado que seja, terá o poder de melhorar nossos índices educacionais, se não contar com a mobilização em massa da sociedade e, sobretudo, com o apoio e a presença de pais de alunos e da comunidade no entorno de cada escola. Sem o envolvimento da população em peso, dificilmente uma tarefa dessa proporção terá êxito, ainda mais quando se sabe que pela Constituição, a educação é posicionada como sendo um esforço de natureza nacional e com sistemas de ensino organizada em regime de colaboração.

A união da sociedade em torno desse objetivo, embora extremamente necessária, não pode ser feita no período de um ou dois governos, mas terá que ser, rigorosamente, cumprido a longo prazo, durante gerações. Para tornar a missão ainda mais complicada, é preciso ver que, dentro de cada questão relativa aos problemas da educação, existem ainda uma espécie de subproblemas que parece embaralhar ainda mais essa tarefa.

Dessa forma, de nada adianta universalizar o acesso à educação, se os alunos não forem mantidos nas escolas até a conclusão, ao menos, do ciclo básico. Por outro lado, torna-se inócuo manter os alunos nas escolas, se, ao final desse primeiro ciclo, eles não forem capazes de resolver as questões inerentes à essa etapa, como compreensão de textos e resoluções de operações matemáticas simples entre outras habilidades próprias para a idade.

Mas para iniciar esse verdadeiro trabalho de Hércules, é preciso antes resolver o problema das profundas e persistentes desigualdades regionais, considerada por especialistas no assunto, como uma das maiores do planeta. Somos um país imenso territorialmente e com descomunal desigualdade na distribuição e concentração de renda. E esse desequilíbrio é uma das principais causas de nosso subdesenvolvimento prolongado. Enquanto esse problema não for solucionado, todos os outros também não o serão.

Políticas públicas desenvolvidas sobre um país tão desigual estão fadadas ao fracasso ou a um sucesso pífio e momentâneo. Infelizmente, até aqui, e diante desse quadro, o Brasil não tem sido capaz de desenvolver programas e modelos capazes de enfrentar e superar a dura realidade histórica.

É preciso atentar para o gigantismo da estrutura educacional pública do país. São quase 50 milhões de alunos matriculados na educação básica, principalmente na rede pública; quase 2,5 milhões de professores, a maior categoria profissional do país, além de 178,4 mil estabelecimentos escolares. O que faz do Brasil um gigante mundial, também no setor educacional.

Trata-se, portanto de um desafio imenso que precisa ser feito por milhões de brasileiros ao longo de muitas décadas e que precisa ser iniciado o quanto antes.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags