Alhos com bugalhos
O capitalismo moribundo se ocupa, vendo o mundo pegar fogo. Sombra e água fresca só conhecem o mesmo destino: a minoria próspera. A multidão inquieta convive com incêndios diários, invadindo sua morada florestal. A selva de pedras, resultado de inúmeras invasões ao propósito verde, atropela a conservação da biodiversidade, impondo dicotomia absurda entre os trabalhos da cigarra e da formiga. O caminho do meio é melhor que a era dos extremos. A vida não pode ser tão triste assim. Como no romance de Daniel Galera, Até o dia em que o cão morreu (2007), só a instabilidade das paixões que se anunciam põe o trem nos trilhos. Um cotidiano sem riscos emocionais congela o pulsar da existência. Uma boa educação pode elevar o nível da conversa e combater as atividades agressivas. Alegoricamente falando, abusar da "virtude dormitiva" confirma somente o desdém da raposa sobre as uvas não alcançadas. A justa medida está longe de ser a lei do menor esforço. Agentes facilitadores, quando muito, são teclas de atalho. Movimentam também a literatura de autoajuda e o discurso publicitário. Conversa mole para boi dormir. Não à toa, alerta a canção Admirável Gado Novo (1979), entoada por Zé Ramalho: "Vocês que fazem parte dessa massa/ Que passa dos projetos do futuro/ É duro tanto ter que caminhar/ E dar muito mais do que receber/[...]/ Ê, ô, ô, vida de gado/ Povo marcado/ Ê, povo feliz!". No fundo, a conciliação entre alhos e bugalhos no Brasil só promoveu o inaceitável e o indecoroso.
Marcos Fabrício Lopes da Silva,
Asa Norte
Aeroporto
Aqueles que não concordam com as privatizações podem usar como exemplo de mau desempenho o Aeroporto de Brasília. Devido às restrições impostas pela pandemia, deixei de frequentar o aeroporto por alguns meses. Dia 8 de julho, necessitando buscar uma passageira internacional, tive o dissabor de ter que enfrentar um estacionamento as escuras, sem placas luminosas e sem qualquer tipo de orientação. O que vem a ser estacionamento Premium? Onde devo estacionar mais próximo do desembarque Internacional? Nenhuma orientação. Tiro no escuro. É triste reconhecer que nossos gestores não sabem criar e não têm competência para copiar quem cria. Uma empresa específica para administrar um aeroporto deveria conhecer o que seus clientes precisam e como atendê-los. Só levam jeito nas cobranças e não na qualidade do (mau) serviço que prestam.
Cauby Pinheiro Junior,
Águas Claras
Imponderável
Diante da possibilidade de ser derrotado em outubro próximo, o inquilino do Planalto acusou o ministro Nelson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro Supremo Tribunal Federal (STF), de saber, previamente, o resultado da eleição presidencial. Se consideradas as pesquisas de opinião, hoje, o capitão amargaria uma fragorosa derrota, o que seria ótimo para o país. Tudo que fez, ao longo desses terríveis quase quatro anos, foi desgovernar o Brasil. Retrocessos nas conquistas sociais, descaso com a saúde, educação andando para trás, política econômica catastrófica, maracutaias no meio ambiente, etnocídio dos povos indígenas. Tudo isso somado a uma máquina afiada de espalhar mentiras. Mas a acusação contra o ministro é mais um capítulo da sua fantasiosa narrativa para desacreditar o sistema eletrônico de votação do país, o mesmo que o elegeu presidente da República e, por sucessivas eleições, o manteve como deputado federal por 27 anos, apesar da sua medíocre atuação. Hoje, não há como escamotear a suas intenções de incitar os mínions insanos e desmiolados para apoiar um eventual golpe de Estado e, assim, permanecer no poder como autocrata, ou mesmo, ditador, derretendo o processo democrático, a maior conquista dos brasileiros. Quem não se lembra da reunião de 22 de abril de 2020, quando afirmou que era muito fácil restabelecer a ditadura no país? A partir de 2 de agosto, início da campanha eleitoral, teremos que ficar atentos e fortes, pois a violência marcará a corrida pela disputa do poder. Hoje, jogam fezes sobre os opositores. Amanhã — quem sabe? —, os mínions insanos não apelarão para artefatos letais. O imponderável poderá ser tornar realidade.
Euzébio Queiroz,
Octogonal
Só falácia
Os eleitores ouviram falar em 2018 em um governo com quinze ministérios. Entretanto isso não aconteceu e o Centrão levou tudo e a chave do cofre. Ouviram também dizer que o programa Bolsa Família era eleitoreiro, e que assim que tomasse posse ele poria fim naquela baderna. Entretanto, Bolsonaro mudou o nome e vai usá-lo justamente para fins eleitoreiros rasteiros. Falaram muito que a emissora Globo era um lixo, que era até comunista (sic), e que sua concessão não seria renovada pelo mito. Entretanto, ele estava mentindo, a emissora não somente terá a renovação como o maior aporte de recursos entre todas as concorrentes. Ele aprovou o obsceno Fundo Eleitoral, sancionou leis que prejudicam o povo e o meio ambiente, mas não combateu a corrupção em nenhum momento desde a posse. Indicou um racista para a Fundação Palmares, um assediador para a Caixa, nomeou um secretário de governo que foi flagrado com um quadro nazista em sua sala.
Rafael Moia Filho,
Bauru (SP)
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