Muita gente pode até não ligar uma coisa com outra ou simplesmente fazer de conta de não existe relação estreita entre o desmanche proposital e metódico de toda a Operação Lava Jato e as próximas eleições, mas o fato é que o Estado, ou o que é comumente chamado hoje de "deep estado", ao promover e engendrar o esfacelamento de toda essa megainvestigação, a fim de livrar muitos de seus protagonistas nesses episódios, empurrou as eleições para a beira do abismo onde se encontra.
De nada adiantam as pantomimas e os discursos voltados para o estabelecimento de uma espécie de paz nas eleições e os diversos movimentos em torno da segurança ou não do modelo de votação eletrônica, se atentarmos para o fato de que a base ou os alicerces de todo esse processo eletivo e de alternância de poder, importante para a sobrevivência do Estado Democrático de Direito, foram simplesmente solapadas, tornando todo o processo sem o importante lastro da ética.
O desmanche planejado da Lava-Jato, ao tornar possível o impossível que foi permitir o retorno à vida pública de praticamente todos aqueles que foram investigados, processados e condenados pela Justiça no curso dessa operação, abalou e comprometeu todo o edifício institucional e eleitoral do país, transformando e mergulhando o pleito de outubro num mar turvo e de incertezas profundas, capaz de reverter a ordem em caos, transmutando o que seria uma festa da política e da democracia num banzé e num arrasta-pé de bandoleiros.
Não se deixe enganar: tudo o que vier a acontecer daqui para outubro e depois dessa data tem ligação direta com o que foi feito com a Operação Lava-Jato. Ao retirar, do meio do salão, onde se dá essa dança desengonçada em torno das cadeiras, todos os mais básicos princípios e regras da ética pública, o que restou é o que temos visto até aqui.
Houvesse uma peneira ou um coador capaz de filtrar as impurezas que maculam as eleições, o pleito seria outro, civilizado e dentro do que esperam os eleitores. Criações de grupos contra a violência, ameaças de prisão, censura às mídias sociais e todo o aparato do Estado não terão o condão de pacificar o que foi conspurcado na sua origem.
Aos personagens que outrora foram processados pela Operação Lava-Jato somam-se hoje muitos outros, responsáveis diretos e indiretos pelo desmanche dessas investigações, numa conjunção de elementos e esforços que vieram desembocar nessa foz de instabilidade eleitoral.
Há, portanto, que olhar para trás, rever direções e quiçá retomar essas investigações no ponto em que foram represadas, permitindo a continuidade do fluxo normal da água cristalina da ética pública. Fechar os olhos a essa realidade é deixar o barco despencar na cachoeira. O problema aqui é que a providência necessária, capaz de uma concertação de todo esse processo, parece escapar das mãos dos cidadãos, contribuintes e principalmente dos eleitores, que em todo esse acontecimento é instado apenas a apertar uma tecla, alheio ao que irá lhe acontecer amanhã.
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