Opinião

Artigo: A desconfiança e o risco Brasil

Indicador da desconfiança dos investidores em relação à saúde fiscal do país, o risco Brasil está acima de 300 pontos desde 5 de maio

Correio Braziliense
postado em 25/07/2022 06:00

O país hoje é visto com ressalvas por investidores estrangeiros, seja pelo avanço do desmatamento da Amazônia e denúncias envolvendo populações indígenas, seja pela tensão política, seja pelo aumento dos gastos públicos. Uma combinação que eleva o chamado risco Brasil, afasta investidores da bolsa de valores e exige o aumento da taxa de juros, além de pressionar a cotação do dólar, que, depois de flertar com um patamar abaixo de R$ 5, voltou a subir.

Tudo isso mesmo com a Receita Federal divulgando uma arrecadação total de R$ 181 bilhões em junho, o que representa alta de 17,96% em relação ao mesmo mês do ano passado. Com isso, o total arrecadado nos seis primeiros meses do ano chegou a R$ 1,1 trilhão. Mas esses recursos, o maior montante para o mês e para um semestre, não serão suficientes para cobrir os gastos do governo, com o déficit fiscal este ano devendo chegar a R$ 65 bilhões.

Indicador da desconfiança dos investidores em relação à saúde fiscal do país, o risco Brasil está acima de 300 pontos desde 5 de maio e no último dia 18 fechou a 364 pontos. Em dezembro de 2021 o indicador estava em 220,9 pontos, o que mostra o avanço da falta de confiança no Brasil este ano. É por trás desse movimento que a bolsa de valores (B3) opera abaixo de 100 mil pontos e não deve superar esse patamar novamente até o fim do ano, com o capital internacional migrando para os Estados Unidos e a Europa, que oferecem menor risco e estão elevando seus juros - o Banco Central Europeu (BCE) subiu a taxa em 0,5 ponto semana passada, na primeira elevação em 11 anos. E tanto nos EUA quanto no Velho Continente, a tendência é de que a alta se mantenha.

 Com o mundo temendo uma recessão global e os juros refletindo o aumento das incertezas, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tenta mais uma vez mostrar um otimismo que cada vez tem menos crédito para investidores. Ao divulgar os números da arrecadação, Guedes afirmou que o Brasil está em um novo ciclo de crescimento prolongado. Detalhe: o governo prevê avanço do PIB em 2% este ano, mas para o mercado o crescimento será de 1,75%. Ou seja, a taxa de expansão da geração de riqueza está muito aquém do necessário para dinamizar a economia brasileira, que deve se expandir apenas 0,5% no próximo ano.

Guedes pode considerar que crescer por crescer é o plano, mas nem de longe o desempenho da economia brasileira favorece a redução do imenso contingente de pessoas passando fome no país e o grande número de brasileiros sem trabalho. E esse baixo crescimento ocorrerá com a inflação em alta, pressionada pela elevação do custo das commodities em todo o mundo.

Um corte de impostos baixou os preços dos combustíveis, da energia, das comunicações e do transporte público a fórceps, e vai promover uma redução momentânea desses serviços, mas não o suficiente para trazer a inflação para a meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3,5% para este ano, com tolerância de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima. E o próprio governo já admite que não cumprirá também a meta de 2023, de 3,25% com a mesma tolerância. Para este ano a previsão é de que o IPCA feche acima de 7%, enquanto no ano que vem o mercado prevê alta de 5%.

Em meio ao baixo crescimento econômico e à inflação elevada, o otimismo de Guedes desconsidera os riscos fiscais para os quais ele fechou os olhos ultimamente, contrariando inclusive princípios do liberalismo que diz seguir. Nesse contexto, seria mais proveitoso que o governo se esforçasse para mostrar aos investidores estrangeiros o potencial de investimentos em infraestrutura e do mercado brasileiro, com mais de 210 milhões de habitantes.

Uma boa iniciativa seria mostrar aos embaixadores de nações com representação diplomática no Brasil as possibilidades e potencialidades do país. Mas esse momento foi desperdiçado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que optou por repetir ataques e suspeitas sobre as urnas e eleições ao corpo diplomático, contribuindo não para trazer os estrangeiros para investir no país, mas sim aumentando a percepção de risco sobre o Brasil.

 

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