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Artigo: A vitória do sebastianismo

Marcos Paulo Lima
postado em 30/07/2022 06:00 / atualizado em 30/07/2022 18:41
 (crédito: Heuler Andrey / AFP)
(crédito: Heuler Andrey / AFP)

Uma das marchinhas mais famosas da história das eleições no Brasil é Retrato do Velho, uma composição de Haroldo Lobo e Marino Pinto interpretada por Francisco Alves na campanha pela volta de Getúlio Vargas à presidência da República. Um trecho da letra diz: "Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar, o sorriso do velhinho faz a gente trabalhar". Apelidado de "pai dos pobres", ele determinou que as repartições públicas deveriam ter um quadro com a foto do presidente. O legado pegou e a tradição continua.

O sebastianismo — espera messiânica no retorno do rei D. Sebastião para libertar Portugal —, flagrante no jingle de Getúlio Vargas, sobrevive na política e no futebol. De um lado, eleitores ancorados ao lulismo clamam pelo retorno do petista ao Palácio do Planalto no papel de velho salvador da pátria. Do outro, bolsonaristas atracados ao "mito" lutam para manter o retrato do atual presidente no mesmo lugar. Qualquer nome da terceira, quarta, quinta ou última via é vaiado pela torcida organizada de um dos lados da gincana. A maioria da população do país está fechada com dois nomes e, simplesmente, não aceita escrever uma nova história.

Clubes de futebol e seus seguidores presenciais e virtuais também agem assim. O Atlético-MG acaba de colocar o "retrato do velho" no mesmo lugar. O técnico Alexi Stival, o Cuca, iniciará, amanhã, a terceira passagem no Galo. Méritos dele, óbvio. O treinador guiou o time aos títulos do Mineiro, Copa do Brasil e ao fim do deserto de 50 anos sem o título do Brasileirão no ano passado. Em 2013, brindou o clube com a inédita Libertadores. Daí o pavio curto da massa com o "Turco" Mohamed. A volta messiânica de Cuca estava escrita.

O sebastianismo está arraigado no Flamengo. Dorival Júnior ainda não ouviu "olê, olê, olê, olê, Mister, Mister", porque Jorge Jesus assumiu o Fenerbahçe da Turquia. Doménec Torrent, Rogério Ceni, Renato Gaúcho e Paulo Sousa ficaram surdos de tanto ouvir o coro. Uma "nação" de 40 milhões de torcedores bradava no estádio e nas redes sociais para que a diretoria rubro-negra colocasse o retrato do português no mesmo lugar. Havia convicção de que somente o sorriso do velhinho Jesus faria o elenco voltar a trabalhar como em 2019, ano das conquistas do Carioca, Brasileirão e Libertadores.

O Palmeiras viverá processo semelhante ao fim da Era Abel Ferreira. Ou você acha que o herdeiro da prancheta terá paz depois de o lusitano ganhar um Paulista, uma Copa do Brasil, duas Libertadores e uma Recopa? Campeão simbólico do primeiro turno, Abel está a quatro meses de conquistar o penúltimo título que lhe falta. Restaria o Mundial de Clubes, no qual foi vice nesta temporada contra o Chelsea.

Os "Dom Sebastiões" batem à porta na política e no futebol. Cabe a você decidir se vale a pena colocar ou manter o retrato dos "velhos" no mesmo lugar.

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