Editorial

Visão do Correio: Combustível para novos prognósticos

Muitos especialistas viam como improvável uma queda repentina no preço dos combustíveis, com base nas propostas defendidas pelo Planalto e por aliados em tramitação no Congresso Nacional. Erraram. Mais rapidamente até do que esperava o próprio governo, a gasolina e o álcool começaram a ficar mais baratos país afora, caindo abaixo dos R$ 7, com as medidas que, primeiramente, zeraram impostos federais, como o PIS/Cofins, e, posteriormente, reduziram nos estados a alíquota do ICMS incidente sobre a gasolina, o diesel e o etanol.

Na capital paulista, na quinta-feira, pesquisa feita pelo Procon mostrou que motoristas já abasteciam o carro pagando R$ 6,43 pelo litro da gasolina. No dia seguinte, esse também era o menor valor encontrado em Brasília. Enquanto, em Belo Horizonte, o preço mais baixo cobrado do consumidor estava em R$ 6,95.

Também houve redução no preço do etanol, mas o do diesel ainda se mantinha nas alturas.

O impacto positivo verificado nos postos de combustíveis, e que também já chega à conta de luz, obrigou economistas de alguns dos principais bancos do país a refazer projeções para a inflação deste e do próximo ano. Afinal, a energia, a gasolina e, principalmente, o diesel têm impacto de mais de 10% no IPCA, o índice oficial de preços. Além disso, por estarem presentes em todos os setores da economia, resultam em alta de preços com efeito cascata no bolso do consumidor. E quando cai? Tudo cai em seguida? Nem sempre nem na mesma velocidade. Mas decorre daí a necessidade de revisão nas projeções de analistas de mercado, que foram surpreendidos pela velocidade com que a queda chegou aos postos de combustíveis.

Entre as instituições financeiras, o Itaú Unibanco revisou os dados e baixou de 8,7% para 7,5% a previsão relativa ao IPCA de 2022. O Santander, que estimava 9,5%, agora indica que deve ficar em torno de 8%. Caso, posteriormente, haja repasse total do corte de impostos e da redução do ICMS também para a energia e as telecomunicações, o banco avalia que a inflação pode retroceder para 6,4% ainda neste ano.

Nos últimos dias, a pressão de Bolsonaro e de aliados para a aprovação da PEC que amplia benefícios sociais abriu nova frente de críticas ao governo. A proposta, entre outras medidas, aumenta o Auxílio Brasil dos atuais R$ 400 para R$ 600, mais de três vezes o valor do antigo Bolsa Família. Além disso, institui voucher de R$ 1 mil para caminhoneiros usarem ao abastecer o veículo com diesel. Também prevê ajuda a taxistas.

Pela legislação, o vale-caminhoneiro não poderia ser concedido neste momento porque incorreria em crime eleitoral. Mas a concessão pode se tornar legal a partir de uma mudança na Constituição, que se sobrepõe à legislação sobre eleições. Apesar de classificar a PEC de eleitoreira e de dizer que a proposta fere a lei de responsabilidade fiscal, a oposição, no Senado, votou pela aprovação, temendo ser acusada de ficar contra a população mais vulnerável neste momento de crise mundial.

Agora, a PEC está em discussão na Câmara, onde deve tramitar em regime de urgência. O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), trabalha para que a votação em dois turnos — e sem alterações no texto aprovado no Senado — ocorra já nesta semana. Governistas e oposicionistas divergem sobre o impacto que a proposta terá tanto na economia quanto na política. Até aqui, analistas de mercado têm errado sistematicamente nos mais variados prognósticos. Dos números do desemprego ao crescimento do PIB. Quer saber? O jeito é acompanhar os próximos capítulos.

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