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Visão do Correio: Ultraprocessados e a obesidade no Brasil

Ainda não alcança níveis drásticos como nos Estados Unidos, mas o Brasil está longe de apresentar uma situação confortável quando o tema é segurança alimentar

Qualquer ida ao supermercado resulta em um passeio por corredores cada vez mais tomados pelo que os nutricionistas chamam de ultraprocessados. Esse tipo de alimento, com baixo valor nutricional, tem marcado presença na dieta dos brasileiros. Ainda não alcança níveis drásticos como nos Estados Unidos, mas o Brasil está longe de apresentar uma situação confortável quando o tema é segurança alimentar.

Alimentos ultraprocessados, no geral, possuem alta adição de açúcares, óleos, gorduras, substâncias sintetizadas em laboratório e, principalmente, conservantes. Reúnem vários itens que são de uso exclusivo industrial, como concentrados de proteína, gordura hidrogenada e amidos modificados. Causam graves efeitos sobre a saúde, especialmente se consumidos a longo prazo.

O Brasil não está imune ao avanço indiscriminado dos ultraprocessados. Um estudo da Uniced demonstrou que crianças com idade entre menos de 1 e 6 anos, de famílias beneficiadas pelo então programa Bolsa Família — hoje Auxílio Brasil —, estão com seu desenvolvimento em risco devido ao alto consumo de alimentos ultraprocessados e à insegurança alimentar. Os dados são do ano passado.

Foram entrevistadas 1.343 pessoas responsáveis por 1.647 crianças, em 21 estados. Cerca de 80% das famílias relataram o consumo de alimentos ultraprocessados pelos pequenos no dia anterior à entrevista. Os alimentos mais consumidos foram biscoitos salgados ou recheados e bebidas açucaradas, como bebidas lácteas e achocolatados.

Vale lembrar que o Brasil é o segundo maior exportador de alimentos industrializados do mundo, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia).

Com sua área continental, ocupada por mais de 212 milhões de pessoas, o Brasil precisa avançar na formulação de políticas sobre cultura alimentar. É oportuna, apesar de atrasada, a implementação das novas regras de rotulagem nutricional, que entrarão em vigor no dia 9 de outubro deste ano, após determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A partir dessa data, fabricantes de alimentos ficam obrigados a exibir nos rótulos frontais informações mais claras e objetivas a respeito da alta concentração de açúcares adicionados, gorduras saturadas e sódio. Leis similares já existem em alguns países. Na América Latina, o Chile foi pioneiro. No Brasil, entretanto, a lei aprovada pela Anvisa contempla outras medidas de saúde pública, como a taxação de ultraprocessados.

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a rotulagem frontal é uma das principais ferramentas políticas para regular os produtos ultraprocessados e evitar o consumo excessivo de ingredientes que fazem mal à saúde.

Já existem projeções alarmantes sobre o avanço da obesidade no país, que passou de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019. Pesquisadores que publicaram o estudo "A Epidemia de Obesidade e as DCNT — Causas, custos e sobrecarga no SUS" calculam que a obesidade em 2030 no Brasil pode chegar a 26%, ou seja, uma a cada quatro pessoas. Cerca de 55,4% da população estava com prevalência do excesso de peso em 2019.

 

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