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Artigo: Soma igual a zero

Quando se conhece a posição aproximada de um candidato, medido por um determinado instituto de pesquisa, e simultaneamente outro instituto mostra uma posição totalmente diferente, sendo impossível avaliar, com precisão, qual a real posição de cada um nessa disputa

Correio Braziliense
postado em 02/10/2022 05:00
 (crédito: Reuters )
(crédito: Reuters )


Se as eleições de hoje estão, de fato, por ser sacramentadas pela parcela da população que, até a undécima hora, não decidiu seu voto, ou pelo menos não externou publicamente sua opção, o que temos é bem significativo para afirmarmos, com todas as letras, que nenhum instituto de pesquisa de opinião sabe, ao certo, quem será o chefe do Executivo nem se haverá segundo turno.

Caso se confirme a teoria de que a indecisão coletiva é o fator determinante para a escolha de um candidato, ou a realização de mais de um turno, fica subentendido, entre outras premissas, que nenhum dos dois principais pleiteantes é do agrado da população. Estamos imersos, então, numa espécie de incerteza de Heisenberg, um dos pilares da física quântica.

Quando se conhece a posição aproximada de um candidato, medido por um determinado instituto de pesquisa, e simultaneamente outro instituto mostra uma posição totalmente diferente, sendo impossível avaliar, com precisão, qual a real posição de cada um nessa disputa.

A incerteza sobre um possível vencedor, pelo menos ao cargo de presidente, abre também uma possibilidade física para que ele seja qualquer um dos que estão nessa disputa, inclusive o próprio padre Kelmon. Lembrem-se que, em outros tempos, candidatos totalmente fora de propósito e de razoabilidade se sagraram vencedores em pleitos em que a população fez questão de externar sua contrariedade com a qualidade dos políticos em disputa.

Dessa forma animais como o cavalo Invictus, o burro, Boston Curtis, o macaco Tião, o cachorro e até um rinoceronte de nome Cacareco obtiveram significativo número de votos, numa demonstração de que o eleitor não sabe e parece não querer saber de eleições, ainda mais quando o pleito é marcado pelo baixo nível dos candidatos e de propostas.

Eleição é coisa séria e, portanto, deveria ser disputada apenas por indivíduos de igual índole. Aqui, e mais uma vez, caímos de volta na seara da ética pública, de onde deveriam partir os candidatos severamente aprovados pelo pente fino da Ficha Limpa. Na ausência desse requisito básico, destruído por vontade expressa dos políticos com assento no Congresso, o que temos leva uma boa parcela da população a decidir em quem votar contrariada e obrigada, apenas em cima do laço, quando as esperanças se transforam em conformismo.

De qualquer forma, a sorte e o azar estão lançados, pelos próximos quatro anos. O mais cruel em todo esse movimento em torno das próximas eleições é trazido pelo fato de que os candidatos que estão em disputa, bem ou mal, representam a cara da nação. Não há necessidade de ser nenhum estudioso em antropologia ou sociologia para certificar que estamos representados por indivíduos que carregam nossos defeitos e virtudes e que, para o bem ou para o mal, conduzirão a nação no próximo quadriênio. São nossos vícios e virtudes que estão em disputa. Qualidades e defeitos de uma soma igual a zero.

 

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