EDITORIAL

Visão do Correio: Outubro nem tão rosa assim

Correio Braziliense
postado em 07/10/2022 06:00

Assim como os baixos índices de vacinação — vide o prolongamento das campanhas de multivacinação e da poliomielite em diversos estados do país —, os números de mamografias realizadas nos últimos anos estão bem abaixo dos níveis ideais. Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostram que o número de procedimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no país despencou durante a pandemia: passou de 2.527.833 exames, em 2019, para 1.473.277, em 2020 — índice que corresponde a uma queda de aproximadamente 42%. Em 2021, aumentou a procura de interessadas em fazer o exame (2.054.881 mulheres), mas ainda é um número muito distante do patamar pré-pandemia.

A visão das mulheres com relação ao exame também contribui para esses baixos índices de adesão às mamografias. A pesquisa "Câncer de mama hoje: como o Brasil enxerga a paciente e sua doença?" feita pelo Ipec com 1.397 mulheres, a pedido da Pfizer, destaca a importância do autoexame.

No entanto, 64% das mulheres que participaram do levantamento dizem acreditar que o procedimento, no caso o autoexame, seria o principal meio para o diagnóstico do câncer de mama no estágio inicial. Foram entrevistadas internautas de São Paulo (capital) e das regiões metropolitanas de Belém, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e Distrito Federal, com 20 anos ou mais de idade. A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) explica que o autoexame é indicado como autoconhecimento em relação ao próprio corpo, mas não deve substituir os exames realizados ou prescritos pelo médico, uma vez que muitas lesões, ainda pequenas, não são palpáveis.

Dados de pesquisas internacionais alertam para o risco de óbitos a cada período de atraso para o início do tratamento. Um estudo publicado no The British Medical Journal (2020) aponta que o risco de morrer aumenta 13% a cada semana de atraso do início do tratamento e um outro levantamento feito pelo Hospital Erasto Gaertner, de Curitiba (PR), mostra que os casos da doença aumentaram em 30% no estado, nos anos de 2021 e 2022. Ainda revela que os tumores têm chegado para tratamento em estágios mais avançados, principalmente de pacientes que têm câncer de mama ou de intestino.

Em Minas Gerais, a situação é similar. A procura por mamografia preventiva, em 2021, ficou bem abaixo do esperado. Apenas 24% das mulheres atendidas pelo SUS no estado e que fazem parte do público-alvo das ações de combate ao câncer de mama realizaram mamografia de rastreamento no ano passado; percentual muito aquém dos 70% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A meta era que 906.329 mulheres de 50 a 69 anos, atendidas exclusivamente pela rede pública estadual, fizessem o exame preventivo no ano passado. Mas, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), o número de testes para essa faixa etária não ultrapassou 221.687.

Infelizmente, muitas vezes, os especialistas são repetitivos, mas é sempre importante ressaltar que a recomendação da SBM é fazer a mamografia de rastreamento anual a partir de 40 anos, no caso de mulheres de risco habitual, e a partir dos 30 anos para mulheres de alto risco. Aquelas que apresentam qualquer tipo de sintoma devem procurar auxílio médico o mais rápido possível, inclusive as mais jovens. No tradicional Outubro Rosa, fica o apelo para o autocuidado e a necessidade de campanhas de conscientização.

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