ELEIÇÕES 2022

Artigo: A fé move montanhas, não votos

Ana Dubeux
postado em 16/10/2022 06:00
 (crédito: Patrick Fore on Unsplash)
(crédito: Patrick Fore on Unsplash)

Poucas coisas são mais caras a um ser humano do que a sua conexão com o divino. A fé — ou mesmo a ausência dela — é um atributo pessoal, não político no sentido de partidário e eleitoral. Explorar a religiosidade em campanhas políticas em um país laico, conforme nos diz a Constituição, se não é crime, deveria ser.

É na fé que o povo repousa a força e, muitas vezes, a esperança. Surrupiá-la para angariar votos prova a falência moral e ética de um país entregue a uma polarização odiosa, que infelizmente não terá ponto final com o fim destas eleições. Talvez seja nosso martírio ter que conviver também com a exploração da religião como moeda eleitoral.

A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) alertou que a fé católica não pode estar a serviço de nenhum candidato ou partido. Católicos tiveram o desprazer de compartilhar um dos momentos mais festivos e especiais de sua fé, o Dia de Nossa Senhora Aparecida, nossa padroeira, com uma claque de bolsonaristas que tumultuaram a celebração na Basílica e seus arredores. Em uma das missas, o padre alertou: "Não é dia de pedir votos; é dia de pedir bênçãos".

A Igreja Católica lembrou, em nota, que nada pode tirar a atenção dos reais problemas do Brasil. Lembrei-me da frase maravilhosa de Dom Helder, repetida pelo Papa Francisco, por ocasião da pandemia: "Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista".

Dom Helder foi perseguido pelo regime militar, mas nos lembrou todos os dias de sua vida que a preocupação religiosa tinha endereço certo: aliviar o sofrimento de quem mais precisa. As suas pregações e seus escritos já estão no Vaticano e integram o processo de beatificação e canonização. Que suas palavras ecoem por todo o sempre!

O uso da violência física ou verbal dentro de igrejas e templos ainda me choca, e creio que vai chocar sempre, apesar do histórico de uso político da religião. Sim, você pode optar por um candidato que comungue a sua fé. Também pode pedir votos para ele. Mas não pode, nem deve transformar sua religião num armamento para condenar e atacar a fé do outro.

Não é apenas leviano, é cruel. Mais do que não jogar fora o seu voto, lembre-se de não macular as crenças e os ensinamentos da sua religião. Guarde-a no seu coração e a pratique no dia a dia, no convívio com o outro. Não deixe que ninguém, sobretudo políticos, roubem o que você tem de mais precioso.

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