sociedade

Artigo: Um novo tempo

Correio Braziliense
postado em 08/11/2022 06:00
 (crédito: Julio Lapagesse/CB/D.A Press)
(crédito: Julio Lapagesse/CB/D.A Press)

ISAAC ROITMAN - Professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), pesquisador emérito do CNPq, membro da Academia Brasileira de Ciências e do Movimento 2022 - 2030 o Brasil e o Mundo que queremos

Tomei emprestado como título do artigo de Marcos Valle, em sua inspiradora obra musical, que diz no final: "Todos os nossos sonhos serão verdade / O futuro já começou / Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa / É de quem quiser, quem vier / A festa é sua, hoje a festa é nossa / É de quem quiser, quem vier".

Esse foi o pano de fundo do primeiro pronunciamento do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. É um convite a toda a sociedade brasileira, para a construção de um país sem fome, trabalhos dignos, educação de qualidade, ciência e tecnologia incentivadas, assistência plena à saúde, direitos humanos respeitados, preservação do meio ambiente, liberdade religiosa, preservação cultural com investimentos em todas as expressões artísticas, respeito e dignidade com nossos povos ancestrais e afrodescendentes e sobretudo o amadurecimento de nossa jovem democracia.

Conseguimos de cabeça altiva atravessar um período eleitoral tenso e acirrado. Apesar de alguns grupos radicais, o país não foi incendiado. Apesar de alguns episódios pontuais, nosso Poder Legislativo foi importante para consolidar nossa democracia.

Nosso Poder Judiciário, da mesma forma, garantiram a lisura e a normalidade do processo eleitoral. Nossas forças de segurança merecem o nosso reconhecimento pela manutenção da ordem. É também importante reconhecer a postura e ações das forças armadas, durante o processo eleitoral e não dar eco às provocações para um golpe militar. Esse conjunto de poderes e instituições clama para uma união de todos visando a uma sociedade em harmonia e feliz. Vamos esquecer da direita e esquerda. Vamos olhar para a frente, para a atual e futuras gerações. Vamos dar as mãos, respeitando a diversidade de ideias e convicções. Precisamos recuperar o diálogo respeitoso e civilizado. Novamente, recorro a Marcos Valle, dizendo: "Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa".

Essa festa da vitória da nossa democracia transcendeu a nossa brasilidade. O processo eleitoral foi acompanhado como nunca, pela imprensa internacional. Após as eleições, o reconhecimento das eleições foi proclamado com rapidez pelas principais lideranças de outros países, independentemente de ideologias e bandeiras. O convite feito para que o presidente eleito participe da Conferência da ONU sobre o clima, no Egito, e a restauração do Fundo Amazônia pela Alemanha e Noruega, apontam para a importância do Brasil no cenário internacional e na preservação da vida no planeta. É dever do estado brasileiro implantar medidas para a utilização racional dos recursos naturais de forma que seja possível suprir as necessidades atuais, mas sem que haja comprometimento da disponibilidade desses mesmos recursos para as futuras gerações.

Os períodos democráticos brasileiros foram interrompidos por regimes autoritários. O início da democracia no Brasil foi o do primeiro governo de Getúlio Vargas em 1930 e que durou até 1934. Em 1946 foi retomada e durou até 1964. Novo retorno foi feito em 1985 com duração até hoje. A democracia brasileira precisa ser preservada, fortalecida e consolidada em um processo de construção que é de responsabilidade de todos nós.

Vamos celebrar a democracia e ouvir todos e incentivar o diálogo. Como se manifestou Paulo Freire: "Um governo verdadeiramente democrático é aquele que ouve a todos, sem nenhum tipo de discriminação ou preconceito". Lembremos também de Carlos Drummond de Andrade, que disse: "A liberdade é defendida com discursos e atacada com metralhadoras. Vamos aperfeiçoar nossa democracia, consolidando valores como a ética, a solidariedade e a amorosidade. Lembremos o pensamento de Eça de Queiroz: "Nestas democracias industriais e materialistas, furiosamente empenhadas na luta pelo pão egoísta, as almas cada dia se tornam mais secas e menos capazes de piedade".

Nesse novo tempo, podemos e devemos provocar uma inflexão na sociedade brasileira. Vamos sepultar o comportamento de país colonizado. Vamos concretizar a eliminação definitiva do conceito e prática da escravidão. Vamos proclamar a nossa soberania e a verdadeira independência. Vamos dar a oportunidade para que todos os brasileiros tenham oportunidade de conquistar seus sonhos e serem felizes. Vamos festejar a vida. A festa é sua, hoje a festa é nossa.

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