EDITORIAL

Visão do Correio: Pelé, soberano sem sucessor

Hoje, o Brasil amanhece triste e menor. A finitude da vida chegou para o Rei do Futebol. Edson Arantes do Nascimento, 82 anos, que deixa um trono conquistado pela sua singular habilidade com a bola e que deu ao país o título, até então inédito, de campeão do mundo na Copa da Suécia, em 1958. Ele ainda era príncipe, com 17 anos.

A partir daí, ele se tornou o atleta indispensável à Seleção Brasileira. O seu reinado começou a se expandir. Os holofotes do esporte mais popular do planeta passaram a iluminar o Brasil. Pelé era a referência entre craques nacionais e internacionais, título que dividiu com o país, que passou a ser visto como um celeiro de jogadores por inúmeras nações. Reconhecido em todos os continentes, ele levou milhões de brasileiros e até adversários ao êxtase com jogadas, dribles e gols inimagináveis que faziam tremer os estádios.

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O passe do atleta foi cobiçado pelos times Real Madrid e Milan. O Santos, que o projetou no esporte, ignorou as pretensões dos europeus. Pelé era inegociável. Jânio Quadros, então presidente da República, foi mais radical. Editou, em 1961, um decreto que tornou o craque "tesouro nacional". Tão importante quanto ser rei, ele se tornou um patrimônio de todo o povo brasileiro.

Em 1970, aos 29 anos, foi coroado Rei do Futebol. Atingia o apogeu da carreira. O reinado estava consolidado pelo desempenho na Copa do México. Brilhou como nenhum outro atleta. O Brasil chegou ao tricampeonato mundial. Foram seis jogos, nos quais fez seis gols, e deu assistência a seis outros.

Em 1975, por um ano, Pelé, considerado uma lenda brasileira, aceitou jogar pelo New York Cosmos, dos Estados Unidos. No ano seguinte, ele estava de volta ao Brasil, ou melhor, para o Santos. Aos 50 anos, o rei decidiu que era hora de deixar a bola e os campos, que lhe propiciaram uma fama jamais superada por outros atletas. E não à toa. Ele foi o atacante mais inspirador de todos os tempos. Fez 1.282 gols que lhe valeram destaque na lista dos maiores artilheiros da história do futebol mundial. E mais: recebeu o título de atleta do século 20.

Pelé se tornou lendário, com enorme poder de influenciar a sociedade. Embora detentor de uma fama ímpar, ele se absteve de envolvimento no cenário político, após pendurar as chuteiras. No entanto, seguiu levando o nome do Brasil por onde passava, e nunca deixou de defender o esporte, como um dos mais importantes espaços para o desenvolvimento dos jovens. Ele era um exemplo de que as atividades esportivas podem ser portas abertas aos menos favorecidos.

Diferentemente de muitos outros jogadores, Pelé conquistou reinados, mentes e corações. Como homem negro e ícone do seu tempo, ele foi poupado das expressões anticivilizatórias, como o racismo e os preconceitos, que humilham outros grandes atletas que o tem como inspiração nas quatro linhas dos verdes campos. Edson Arantes do Nascimento não se perderá no tempo. Seguirá vivo na lembrança de todos como o maior e insuperável soberano do futebol. Que Deus o acolha.