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Opinião

Artigo: O que fazem as redes estaduais de ensino que mais acertam?

Por conta da pandemia e fechamento das escolas, crianças e jovens sofreram com a aprendizagem, resultando em números alarmantes

Grupo de crianças escolares com bolsas escolares e mochilas vão para a escola, vista de trás.   -  (crédito:  Getty Images/iStockphoto)
Grupo de crianças escolares com bolsas escolares e mochilas vão para a escola, vista de trás. - (crédito: Getty Images/iStockphoto)
postado em 13/01/2023 06:00

Por HELOISA MOREL — Diretora-executiva do Instituto Península

A cada quatro anos, a esperança de um Brasil melhor é renovada sejam quais forem as crenças políticas. Agora, temos um novo ciclo de governos que terá como principal meta o desenvolvimento econômico-social para todos os brasileiros. Nesse sentido, a história revela que países que conseguiram os resultados de que tanto precisamos investiram em educação de forma robusta, consistente e estratégica.

Por conta da pandemia e fechamento das escolas, crianças e jovens sofreram com a aprendizagem, resultando em números alarmantes: 4 milhões de alunos abandonaram a escola no Brasil apenas em 2020. Esses números são ainda mais graves na rede pública, na qual o acesso ao ensino remoto era, em sua maioria, precário. Porém, mesmo com adversidades, os professores brasileiros se desdobraram para que seus alunos aprendessem o possível durante e após a pandemia. Sem o empenho desses profissionais, o futuro das nossas gerações correria ainda maior perigo.

Para compreender como os estados investem nos professores, considerados por pesquisas como o fator intraescolar mais importante para a melhoria do desempenho acadêmico dos alunos, o Instituto Península conversou com a quase totalidade dos secretários estaduais de educação em 2022.

Muitas são as boas notícias. A maioria deles deseja alcançar bom posicionamento no ranking de salários e organizar ofertas de formação continuada. Existe também uma grande preocupação com valorização da carreira, bem-estar e desenvolvimento, além da unanimidade em reconhecer que os docentes são importantes implementadores de políticas públicas educacionais.

Embora fundamentais, esses desejos estão longe de serem suficientes. A partir de uma compreensão sistêmica da carreira dos professores, existem importantes "pontos de acupuntura" a fim de induzir as mudanças necessárias para que os docentes tenham, de fato, condições de atuar em seu pleno potencial.

A primeira, e talvez mais fundamental, é um olhar inovador para as carreiras. É evidente que uma remuneração justa, em linha com a média paga para profissionais de nível superior, é desejável, mas esse não é o único ponto a ser observado. Adequação das carreiras para além dos salários foi citada por alguns secretários e algumas boas experiências estão em curso.

Por mais óbvio que pareça, professores dedicados a uma única escola parecem ter melhor aproveitamento do que os que precisam se dividir entre duas ou três instituições. Se puderem cumprir 1/3 da carga horária de planejamento, obrigatória e garantida por lei, na escola, em interação formativa e em situações contínuas, significativas e contextualizadas, ainda melhores são os resultados. Segundo os secretários, em linha com o que evidenciam as pesquisas, uma comunidade de aprendizagem e apoio, em uma escola de tempo integral, parece ser o melhor ambiente para que professores se desenvolvam e aumentem seus níveis e bem-estar.

Outro ponto fundamental é a formação continuada. Redes que possuem um plano de formação que garanta o desenvolvimento de competências relacionadas ao perfil do professor que desejam formar e focam no conhecimento sobre como ensinar, conseguem maior adesão e comprometimento dos docentes. Redes que investem em uma equipe própria e competente de formadores também atingem melhores resultados.

Há outros pontos importantes, embora menos disseminados. Estímulos aos futuros professores, como bolsas de estágios para alunos das licenciaturas, e concursos públicos mais frequentes, decorrentes do planejamento da força de trabalho e incluindo provas práticas, atraem e selecionam professores mais bem preparados. Premiações, apoio socioemocional e tecnológico também são vistos como grandes alavancas de motivação e incentivo para o aperfeiçoamento da prática profissional e surtem efeito com os alunos.

Por fim, parece clara a necessidade de formar professores para assumir o que deve ser sua nova tarefa em um mundo globalizado no qual a informação não é privilégio exclusivo dos "mestres". Ou seja, mediar a construção do conhecimento, ensinando não apenas conteúdos de natureza intelectual mas também emocional, social, cultural e físico, buscando um desenvolvimento integral dos indivíduos.

O Brasil pode e deve aprender com o Brasil. Dar prioridade aos professores, unindo vontade e implementação de políticas públicas, pode ser a equação certa para que esse ciclo político entregue os melhores resultados das últimas décadas. O futuro do Brasil depende disso.

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