Artigo

É hora de avançar

Marcelo Agner
postado em 23/01/2023 00:01 / atualizado em 23/01/2023 06:27
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Bastante oportuna a reportagem de ontem do Correio, dos repórteres Naum Giló e Patrick Selvatti, sobre o sistema compartilhado de gestão de escolas públicas a cargo da Secretaria de Educação e da Segurança Pública, com participação da Polícia Militar do Distrito Federal. Implementada há cerca de quatro anos, pelo governo Ibaneis, a iniciativa sempre foi cercada de polêmicas e críticas, principalmente a cada incidente registrado. Há forte pressão para seu fim, principalmente devido às mudanças ocorridas politicamente na esfera federal. Mas antes de qualquer decisão sobre o fim ou a ampliação deste modelo, é preciso de uma séria avaliação sobre seus resultados.

A pandemia da covid-19 impactou fortemente todo o ensino no país. Crianças, adolescentes e jovens dos colégios públicos foram os mais prejudicados, sem dúvida nenhuma. Houve demora excessiva no retorno às aulas presenciais, sem falar nas dificuldades de recursos para o ensino remoto chegar às populações mais pobres. São indiscutíveis os danos causados a milhões de estudantes.

Nessa realidade, o modelo cívico-militar adotado em 17 colégios da rede de ensino do GDF também passou por descontinuidade. 

Acompanho a discussão sobre essas escolas pelo noticiário e também por artigos de especialistas publicados no Correio. O debate passa por enorme contaminação política e ideológica, principalmente devido à polarização do país nos últimos quatro anos. A presença de policiais militares nas escolas, como forma de aumentar a disciplina entre os jovens estudantes, sempre foi controversa. Muitos profissionais da Educação viram nessa participação uma perda de sua autonomia, além de uma tentativa de se ampliar uma ideologia militarista e conservadora nas escolas que passaram a funcionar de acordo com o modelo.

Concordo que a discussão sobre essas questões precisa ser realizada. Mas diante dos poucos resultados colhidos — foram praticamente dois anos sem atividades nas escolas — qualquer condenação ao sistema pode ser precipitada. Assim também como aprovação com louvor.

Vale lembrar que o modelo cívico-militar funciona em escolas localizadas em algumas das regiões mais pobres do DF e muitas delas marcadas por casos de violência. Continuam, portanto, vulneráveis a uma cruel rotina que impede um processo educacional normal. Há também a fome cercando esses jovens. São problemas de difícil solução, em curto espaço de tempo.

Uma radicalização neste momento delicado do país talvez possa ampliar os problemas no sistema educacional. O Sindicato dos Professores (Sinpro) exige a extinção imediata. Nos planos de Ibaneis para o segundo mandato, fala-se em ampliação. Nem uma das saídas é a mais adequada: agora, é hora de avaliação, numa discussão aberta e democrática. A educação precisa de paz para avançar. 

 

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