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Chacina no DF

Artigo: Não há final feliz

"Não era um produto de ficção que se desenrolava em uma maratona no streaming. Dez pessoas reais — incluindo três crianças inocentes — foram capturadas, torturadas e assassinadas de forma macabra, perversa e com requintes de crueldade"

 24/01/2023 Crédito: Carlos Vieira/CB.  Caso da Chacina no Paranoá. Local onde foram achados os corpos. -  (crédito:  Carlos Vieira/CB)
24/01/2023 Crédito: Carlos Vieira/CB. Caso da Chacina no Paranoá. Local onde foram achados os corpos. - (crédito: Carlos Vieira/CB)
postado em 30/01/2023 06:00

O primeiro mês do ano costuma ser tranquilo. Geralmente, estamos aproveitando o sossego do período pós-festas, ainda em marcha lenta, para traçar rotas, contemplar o caminho, preparar a longa jornada de doze meses que virá pela frente. No jornalismo, é aquele mês em que se padece com a falta de grandes pautas. Mas janeiro de 2023 veio para quebrar totalmente essa tendência. Posse presidencial, ataques de vandalismo, governador afastado e, para completar o cenário político intenso e caótico, uma chacina que abalou o país colocaram a capital federal no foco nacional e até internacional.

Entre todos os assuntos marcantes do mês, o último citado certamente foi o mais alarmante. Não foi fácil noticiar o que aconteceu em 8 de janeiro e seus desdobramentos políticos, jurídicos e sociais. Brasília foi sujada, ultrajada, agredida, ferida na carne e na alma, com marcas de uma violência moral que o tecido cicatricial do tempo irá demorar a amenizar. Mas a cobertura policial de um desaparecimento, que começou a ser feita pelo Correio Braziliense no dia 14, mobilizou a redação de um modo mais catártico do que a pauta de vandalismo. A partir das apurações — em primeira mão e de altíssima qualidade, vale ressaltar — feitas pela repórter Darcianne Diogo e do trabalho em equipe desenvolvido, em tempo real, diariamente, por outros repórteres, fotógrafos, ilustradores, diagramadores e editores, o Distrito Federal começou a acompanhar uma narrativa seriada, dividida em episódios cada vez mais impactantes. Como se fosse uma série de ficção, a população passou a se perguntar o que teria acontecido com os membros de uma mesma família que iam sendo anunciados como desaparecidos e, posteriormente, mortos.

Mas não era um produto de ficção que se desenrolava em uma maratona no streaming. Dez pessoas reais — incluindo três crianças inocentes — foram capturadas, torturadas e assassinadas de forma macabra, perversa e com requintes de crueldade. Uma família inteira foi devastada. Nossos leitores puderam acompanhar, estarrecidos, o desenrolar dos fatos com detalhes que fomos divulgando em um trabalho árduo de apuração e, do lado de cá, apesar da adrenalina a cada nova descoberta, foi duro cumprir o papel social de informar e documentar o caso.

Se é que é possível existir alguma, a boa notícia é que a justiça será feita — e isso até que nos acalma. Há de se destacar, aliás, a agilidade e eficiência dos investigadores e peritos da PCDF que conseguiram elucidar, em tempo recorde, toda a trama que envolvia o extermínio de 10 pessoas e prender os seis suspeitos do crime. Porém, enjaular e penalizar com os rigores do Código Penal os culpados não representam um final feliz. Assim como as cicatrizes deixadas pelo ataque aos prédios públicos da capital federal, essa chacina ficará eternizada na nossa história, e com uma mancha de sangue que o tempo talvez não seja capaz de limpar.

 

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