EDITORIAL

Visão do Correio: A vez do Brasil na transição energética

Superar desafios energéticos faz parte da história do Brasil, que, agora, pode mais uma vez ser protagonista no processo de substituição de combustíveis fósseis por renováveis, cuja principal aposta é o hidrogênio verde. Olhando a história, o país teve a primeira usina hidrelétrica da América Latina (Marmelos Zero), em Juiz de Fora, inaugurada em 1886, iniciando o processo de substituição do gás na iluminação das cidades e nas fábricas, com a energia elétrica marcando a industrialização do país entre 1890 e 1920. Isso ao ponto de Juiz de Fora ser conhecida como a "Manchester mineira", numa referência à cidade inglesa berço da revolução industrial.

Décadas mais tarde, com as crises do petróleo, o Brasil foi pioneiro na adoção de programa para uso em larga escala do etanol como combustível, com o Pró-álcool, lançado em 1975. Hoje, o programa inclui o biodiesel, e os carros são fabricados para usar etanol ou gasolina, que tem 25% de adição do álcool anidro. O programa fez do Brasil um dos maiores produtores e exportadores do combustível verde, que em 20 anos representou a retirada de cerca de 600 milhões de toneladas de CO² da atmosfera.

E não parou por aí. A crise hídrica de 2001, que levou ao racionamento obrigatório de energia elétrica, fez o país a criar o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), dando suporte para os pesados investimentos realizados a partir de então em usinas eólicas e solares. Hoje, essas duas fontes respondem juntas por 23,1% da capacidade de geração de energia elétrica do país, ficando atrás apenas da fonte hídrica (50,7%). O país reduziu a exposição do setor elétrico ao regime de chuvas e acelerou o uso de fontes renováveis.

Agora, mais uma vez uma crise energética desafia o Brasil, com a necessidade mundial de descarbonização da economia e a substituição dos combustíveis fósseis até 2050, ou em 27 anos. O prazo parece longo, mas é curto se considerarmos que será necessário mudar toda a forma de consumo de energia que a humanidade utiliza há séculos e que movimentou os motores do desenvolvimento econômico. Se não é pioneiro, o Brasil oferece as melhores oportunidades para produzir o que se convencionou chamar de hidrogênio verde. O mesmo hidrogênio que é produzido hoje, mas com uso de combustível fóssil para gerar a eletricidade necessária ao processo de obtenção do produto, que tem mais potência para movimentar motores do que a gasolina.

Hoje, no Brasil, há plantas-piloto de usinas de hidrogênio, que fica verde pelo uso de fontes renováveis na geração da energia consumida para sua produção. E é aí que o Brasil leva vantagem. Primeiro tem uma costa marítima que fornece toda a água para a extração do hidrogênio por eletrólise, o que demanda muita energia, que pode ser fornecida por usinas eólicas instaladas no mar (offshore), aproveitando os ventos marítimos. Há tecnologia de usinas eólicas para atender a plantas de hidrogênio, como é o caso de um projeto na Bahia, com previsão de produzir 1 milhão de toneladas por ano de hidrogênio verde. Diante da crise, é mais uma vez a hora de o Brasil aproveitar as oportunidades e se tornar uma player na cadeia global de suprimento do combustível da água que irá se formar no planeta até 2050.

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