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Artigo: A ética tem que vir de cima e permear toda a empresa

O programa começará a receber currículos a partir do dia 15 de março -  (crédito: Reprodução/Freepik)
O programa começará a receber currículos a partir do dia 15 de março - (crédito: Reprodução/Freepik)
postado em 17/03/2023 06:00

Paulo Gomes - Diretor executivo do Instituto dos Auditores Internos do Brasil (IIA Brasil)

Até não muito tempo atrás e para alguns, ainda hoje, existe a crença de que a auditoria interna deve se concentrar apenas em avaliar as políticas, procedimentos e controles formais. Por essa lógica, aspectos menos tangíveis, como a cultura e comportamentos jamais deveriam entrar no escopo da área. No máximo, poderiam se debruçar sobre códigos de conduta e políticas de recursos humanos, permanecendo no campo de normas formalizadas.

Conceitos intangíveis, como ética, competência, estilo de liderança, confiança e reputação, que compõem a chamada cultura corporativa, deveriam ser preocupação de outras instâncias. A percepção de que aspectos considerados soft devem fazer parte do escopo e serem avaliadas pelas áreas de supervisão.

Atribuída, equivocadamente, ao pai da administração moderna, Peter Drucker, a famosa frase de que "a cultura come a estratégia no café da manhã" resume com clareza o fato de que o compromisso com a ética tem que vir de cima e permear toda a empresa. Ainda que não tenha dito exatamente a frase, Drucker menciona a cultura como aspecto vital para o sucesso (ou fracasso) dos negócios e de seu papel na sociedade em que vivemos.

O pensamento significa que a essência de uma empresa deve prevalecer sobre qualquer outro tipo de planejamento ou tática e que a cultura organizacional é o pilar mais forte. Isso se traduz em que objetivos bem definidos e visão financeira não servem de nada se as ações estiverem em conflito da cultura vigente da organização.

Atualmente, a constatação de que uma cultura tóxica e a uma governança corporativa ineficaz podem juntas destruir uma empresa e fica cada vez mais evidente com sucessivos casos de fragilidades internas que põem em risco a continuidade de negócios até então considerados sólidos e bem-sucedidos.

Podemos dizer que a auditoria interna tem um papel fundamental dentro das organizações e, se tivessem inserido, décadas antes, este tema "cultura" em seu plano anual de auditoria, muita dor de cabeça teria sido evitada. Outro fator importante a ser observado sobre a cultura que prevalece em uma empresa é a própria relação que existe entre a liderança e a auditoria interna, pois esta última é questão séria que exige cuidado.

A auditoria interna deve ter os recursos, independência necessária para cumprir suas funções e sem bloqueios de informações por parte da alta administração. É preciso haver uma relação de respeito e confiança que permita uma análise objetiva e independente das ações executadas pela gestão, incluindo um canal de comunicação, sem ruídos ou interferências, com o conselho de administração ou comitê de auditoria. Culturas saudáveis valorizam a supervisão e o trabalho executado pela auditoria interna, de modo a garantir a eficiência na prestação de contas e melhoria na governança corporativa.

Evitar ou combater possíveis fraudes, irregularidades e erros comprometedores são os principais tópicos da auditoria interna, com o objetivo de examinar a fundo controles internos e dados financeiros, contábeis e operacionais da organização. Considerada essencial no apoio dos gestores dentro da empresa, a área facilita e simplifica tarefas e elimina desperdícios no processo.

Uma cultura da organização baseada em valores éticos é o maior fator de prevenção de fraudes que englobam agentes internos. O fato de minimizar o risco de fraude dentro da companhia vai além da implantação de procedimentos e de controle. Honestidade, verdade, lealdade, justiça e comprometimento dentro da empresa devem ser incluídos de maneira implícita na forma de conduzir o negócio.

Vale lembrar que a relação entre a gestão e a auditoria interna deve ser, também, uma via de mão dupla. Não basta prevalecer somente de um dos lados. Ciente de que a prestação de contas e a transparência são aspectos compulsórios e vitais para o sucesso do negócio e longevidade da empresa, ou seja, uma liderança comprometida não permite que suas ações ultrapassem os limites éticos para atendimento das estratégias estabelecidas.

Reitero que o exemplo de uma conduta ética tem que vir de cima para baixo. Ao estabelecer uma base de ações e condições aceitáveis que sustentem uma cultura saudável, é mais fácil identificar indícios de ineficiências que podem pôr em risco a empresa.

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