NULL
JUSTIÇA

Artigo: Um juiz imparcial chamado Tempo

Mão segura ampulheta.  -  (crédito: Julio Lapagesse/CB/D.A Press)
Mão segura ampulheta. - (crédito: Julio Lapagesse/CB/D.A Press)
postado em 17/03/2023 06:00

Com a história ocorre um fenômeno deveras interessante. Mesmo tendo experienciado e vivido intensamente o instante em que ocorreram determinados fatos de grande relevância, capaz de virar de cabeça para baixo o status quo vigente e dar um novo rumo para os acontecimentos, o indivíduo e a sociedade raramente conseguirão ter uma visão completa e acabada do ocorrido.

Isso acontece porque, nessa cronologia, é obrigatoriamente necessário um tempo para a história ser digerida na sua complexidade. Julgamentos e avaliações feitos em momentos próximos aos fatos históricos pecam justamente por falta de uma exatidão e de um olhar abrangente sobre o todo. Com isso, é normal dizer que a compreensão histórica só se torna possível quando todos os fatos ligados aos acontecimentos cessam. Mesmo assim é preciso esperar ainda a ação do tempo e do distanciamento dos fatos.

Vista de longe é que a história se revela real, tal como ela é e foi de fato. Tomando essa lição como ponto de partida, é preciso ressaltar que os fatos históricos que tiveram seu ápice 8 de janeiro, em Brasília, terão ainda que aguardar um tempo para serem racionalmente decifrados por verdadeiros historiadores infensos ao calor abrasador das ideologias.

Isso quer dizer que aqueles fatos, assim como os frutos, só serão devidamente colhidos, quando amadurecidos e na estação certa. Que importância tem essa observação? — poderiam alguns indagar. A fonte de todo aquele rio que passou em nossas vidas está a montante e não a jusante, como querem os apressados, ou seja, é preciso recuar no tempo, ir em direção ao segundo semestre de 2022, observando toda a movimentação ocorrida no país, com a aproximação das eleições de outubro daquele ano.

Os personagens, envolvidos nessa trama eram, além do ex-presidente Bolsonaro, o candidato do sistema, representado por Lula da Silva, e o Supremo Tribunal Federal que, com o Tribunal Superior Eleitoral, tomaram as mais importantes e inesperadas medidas em todo o processo eleitoral, além, é claro, das Forças Armadas, no caso o Exército e a grande massa de manifestantes, voluntariamente refugiados nas portas dos quartéis.

Como personagens paralelos, mas de grande contribuição para os acontecimentos, estão a imprensa e as mídias sociais. Correndo por fora, como sempre acontece nesse país, pode-se notar também o comportamento do parlamento, Polícia Federal e Rodoviária , os caminhoneiros, o governo do DF. Cada um a seu tempo e a sua maneira, contribuíram, ou não, para a ocorrência desses momentos da nossa história.

A prisão em massa dos manifestantes acampados, sempre denominados de "patriotas", ou seja, aqueles que não queriam e ainda não querem que o Brasil tenha o mesmo destino que Cuba e outros países submetidos ao jugo do comunismo, ainda repercute, sendo, portanto, um fato histórico que ainda não teve seu desfecho, talvez em decorrência das suspeitas de que outras variáveis entraram nessa equação.

Também o açodamento extraordinário com que se deu todo e processo jurídico sobre esse e outros episódios, vão requerer, por parte dos historiadores, que toda a avalanche de acontecimentos retorne ao leito normal do rio, permitindo um balanço de todos os estragos. Por sua dimensão histórica, a depredação material do patrimônio público, elevados exageradamente aos píncaros de um fictício golpe de Estado, perdeu sua importância quando comparados aos estragos feitos ao erário por ocasião de escândalos de corrupção no passado. De igual potência, mas que quase nada renderam em termos de punição.

Como se observa, há ainda muito terreno a ser prospectado e um trabalho minucioso dos técnicos em passado para por todas as peças sobre a mesa, montando esse quebra-cabeça, de modo que as próximas gerações aprendam com os exemplos do passado. Pela experiência transparente que a história mostra é possível tomar o caminho certo quando encruzilhadas dessa magnitude se apresentam diante de todos.

Antes de tudo, é preciso que o tempo não permita que se ponha uma lápide fria sobre esses acontecimentos, dando a cada um, segundo sua participação, a verdadeira ação naqueles eventos bastante mal explicados.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.

Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para contato. Clique aqui e mande o e-mail.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

-->