A vida e a morte pedem pausa para reflexões e homenagens. Costumo escrever sobre esporte, aos sábados, neste espaço. Hoje, peço licença a você leitor para compartilhar uma perda, uma dor coletiva. Na última terça, a comunidade evangélica da qual faço parte na Igreja Batista Filadélfia, no Guará II, foi surpreendida pela partida repentina do nosso mano Alessandre Sisnande — o Pretinho, como ele gostava de ser chamado. Pretim para os amigos íntimos do carioca de Nova Iguaçu. Militar, teólogo, diácono, cantor, marido da Lidiane e pai da Lavínia. Uma família de três.
Filadélfia significa "amor fraterno". Pretinho era mascote da Batista Filadélfia. Impossível o ambiente ficar indiferente à presença dele. Uma das marcas pessoais eram os cumprimentos com beijos, abraços, tapas nas costas e a pergunta: "tudo bem contigo, preto?".
O período de louvor (elogios a Deus) liderado por ele na igreja expressava alegria, irreverência ao transformar o púlpito em trio elétrico (risos), como brincava o pastor Marcos Campos. Inundava os corações de paz. Generoso, valorizava quem tocava com ele. Amava arranjos para metais. Diferencial dele. Convidava o músico ao improviso, posicionava-se de frente para ele e curtia cada nota antes de retomar a canção.
Pretinho era um apaixonado por camisas. Inclusive a da Seleção Brasileira. Antes da Copa do Mundo de 2022, ele ficou pistola com a fornecedora de material esportivo da CBF. Numa conversa informal antes de um ensaio, desabafou contra o fato de a Nike vetar a customização com termos de cunho "religioso, político, racista ou ofensivo" nas compras realizadas pelo site da grife.
Alessandre pagou pelo produto e queria ter o direito de imprimir a marca pessoal —Pretinho ou Pretim — nas costas. Lembro-me de ter sugerido que não se estressasse, deixasse a Nike para lá e personalizasse a camisa azul da Seleção em uma loja na 308 Sul.
Outra prova de que ele apreciava blusas foi dada no musical de Páscoa Vento Livre na Semana Santa de 2018. Pretinho conheceu meu velho Alberto e veio contar: "Preto, conheci teu pai e elogiei a camisa dele. É muito linda, Preto!", riu.
Tenho várias canções interpretadas pelo Pretinho na playlist, mas uma impacta desde que ele partiu. Um trecho de Vim Falar com Deus, de Delino Marçal, diz: "Perguntaram o que eu vim fazer aqui/Eu vim falar com Deus/Vim falar com Deus/Vim dizer pra Deus/Que eu sou Dele/E ele é meu". Nosso amigo não irá mais às manhãs e noites da Batista Filadélfia ministrar essa música com aquela alegria tão dele. Estilo próprio.
Tenho certeza de que ele desembarcou no céu bagunçando. Exatamente como fazia nas nossas celebrações. Se os anjos perguntaram na recepção o que ele foi fazer ali, Pretinho certamente respondeu com timbre de voz inconfundível: "Vim falar com Deus/Vim dizer pra Deus/Que eu sou Dele/E ele é meu". Orgulho de você, Pretinho! Saudades.
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