Maria Bethânia Vianna Teles Velloso é a mais nova imortal da Academia Baiana de Letras. A menina Berré, filha caçula de José Teles Velloso (Seu Zezinho) e Claudionor Viana Teles Velloso (Dona Canô), saiu de Santo Amaro da Purificação (BA), bem jovem, para conquistar a fama e a glória. Quarta-feira última, tomou posse na cadeira nº 18 da instituição, cujo patrono foi Zacarias Góes Vasconcelos.
Estrela da música popular brasileira, ela conquistou diversos prêmios, enquanto cantora. Mas, um dos mais importantes veio de outra área: o título de Doutor Honoris Causa, atribuído pela Universidade Federal da Bahia, que recebeu, com pompa e circunstância, numa cerimônia em 9 de dezembro de 2016.
No mesmo ano, a Abelha Rainha foi homenageada pela Mangueira e levou a Verde e Rosa à vitória no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, com o enredo A Menina dos Olhos de Oyá — retratado em Fevereiros, documentário dirigido por Márcio Debellian.
Um outro documentário, O vento lá fora, de 2014, explora a relação de Bethânia com Fernando Pessoa e seus heterônimos, Alberto Caeiro, Álvaro Campos, Bernardo Soares e Ricardo Reis. Isso remete ao fato de textos do poeta lusitano estarem sempre presentes em roteiros de shows da diva. Essa ligação se acentuou após o encontro da artista com Cleonice Berardinelli, a maior especialista em Pessoa no Brasil, com quem dividiu o documentário. O registro feito num dos estúdios da gravadora Biscoito Fino em em 2014, está disponível na internet.
Quando a mais longeva imortal da Academia Brasileira de Letras morreu, aos 106 anos, em 31 de janeiro de 2021, a discípula escreveu:"Dona Cleo será recebida por Fernando Pessoa e levada por ele direto a Deus".
Tenho acompanhado a trajetória artística de Bethânia desde, praticamente, o início dela. Por duas vezes, assisti o antológico espetáculo Rosa dos Ventos, no Teatro da Praia, no Rio de Janeiro, em 1972. Já naquele show, registrado em disco, ela declamava versos de Fernando Pessoa, e também de Clarice Lispector, por quem, igualmente, sempre nutriu grande admiração.
Quem, também, recebeu homenagem da irmão de Caetano Veloso foi Vinicius de Moraes. Ela lhe dedicou um show intitulado Tempo, tempo, tempo, com repertório recheado de clássicos da obra do Poetinha. Após cumprir temporada no extinto Canecão, também na capital carioca, o espetáculo teve ótima acolhida ao ser apresentado na Sala Villa-Lobos do, hoje interditado, Teatro Nacional.
Aliás, quando estive com Bethânia, em Santo Amaro da Purificação, no começo de fevereiro último, ela quis saber da situação da pirâmide, criada por Oscar Niemeyer e chegou a afirmar que só voltaria a cantar em Brasília se fosse no teatro — que é tido como templo da cultura em Brasília.
Não custa lembrar que a primeira vez que Maria Bethânia se apresentou aqui, em 1971, foi na Sala Martins Penna, com o musical Brasileiro, Profissão esperança, no qual dividia o espaço cênico o ator Ítalo Rossi, de saudosa lembrança. Ainda bem que as obras de restauração daquele espaço já estão em andamento.
Em quase 60 anos de carreira, com 40 discos lançados — o de maior vendagem foi As canções que você fez pra mim, em que interpreta composições de Roberto e Erasmo Carlos —,e incontáveis sucessos, a estrela da MPB voltou a subir ao palco recentemente no Manouche, pequeno teatro do bairro Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, com show retrospectivo de sua trajetória.
Dois anos antes, ao ocupar aquela pequena sala, com a temporada de do show Claros breus — à época o Brasil vivia tempos soturnos — sentimentalmente, quis relembrar o início de sua trajetória na noite carioca,quando se apresentava em boates de Copacabana.
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