NULL
CONGRESSO

Análise: CPIs do MST e dos atos golpistas desafiam articulação de Lula no Congresso

Sem uma base aliada ampla, o que obriga a uma negociação para cada assunto em discussão no parlamento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá a articulação política colocada ainda mais em xeque com as CPIs

Deputados reunidos na CPI do MST: investigação será focada no financiamento do movimento -  (crédito: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)
Deputados reunidos na CPI do MST: investigação será focada no financiamento do movimento - (crédito: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)
postado em 19/05/2023 06:00 / atualizado em 19/05/2023 12:19

Um frase do ex-presidente Harry Truman, que assumiu o cargo nos EUA no fim da Segunda Guerra Mundial, ilustra bem o momento político no Congresso. "Se você não aguenta o calor, o melhor é ficar longe da cozinha", dizia Truman, ao comentar sobre as pressões do Parlamento e responsabilidades no exercício do cargo. E, após quatro meses e meio de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está prestes a enfrentar a primeira turbulência na relação com deputados e senadores.

Desde a redemocratização, nenhum presidente teve tantas comissões parlamentares de inquérito em tão pouco tempo de mandato quanto Lula em 2023. São três instaladas até agora: uma para investigar as fraudes em apostas esportivas; outra para detalhar a crise enfrentada por uma das maiores varejistas do país, as Lojas Americanas; e uma terceira sobre os propósitos e o financiamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.

Das três, sem dúvidas, a mais desgastante para o governo é a que trata do MST. O cronograma inicial da CPI deve começar com depoimentos de ministros do governo Lula, lideranças do movimento rural e empresários que tiveram terras invadidas. Um dos cargos mais importantes, a relatoria, ficou com deputado Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro, e um grande crítico do MST. Com tanto barulho pela frente, aliados de Lula já fizeram chegar aos sem-terra para ficarem bem quietinhos neste momento, sem gestos mais radicais, como invasões de grandes propriedades.

Há ainda uma quarta CPI, neste caso mista, com integrantes da Câmara e do Senado, que está prestes a sair do forno. A CPMI dos Ataques Golpistas deve iniciar os trabalhos na semana que vem. Repleto de deputados e senadores com voz ativa nas redes sociais, o colegiado tem tudo para ser bastante midiático, afinal, terá personagens tanto do governo Lula quanto o de Bolsonaro na vitrine. Tudo indica que teremos um duelo de narrativas.

Truman também costumava dizer "the buck stops here", que usava, em tradução livre, para explicar o papel do presidente de descascar os pequenos e grandes abacaxis da gestão. No caso de Lula, a relação com o Congresso é o maior deles. Sem uma base aliada ampla, o que obriga a uma negociação para cada assunto em discussão no Parlamento, o petista terá a articulação política colocada ainda mais em xeque com as CPIs.

No dia da instalação da CPI mais famosa até hoje, a de 1992, que investigou as atividades de PC Farias no governo Fernando Collor de Mello, o deputado Benito Gama disse que o Brasil jamais seria o mesmo depois daquele colegiado. Desde então, uma máxima passou a tomar conta dos corredores e rodas de conversa do Congresso: todo mundo sabe como começa uma CPI, mas nunca como termina. Estaremos de olho.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação
-->