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Exército

Exército e meio ambiente: algo a temer?

Filosoficamente, a educação ambiental (EA) no Exército Brasileiro (EB) fundamenta-se no conhecimento dos impactos que a guerra causa ao meio ambiente, tanto mais devastadores quanto mais avança a tecnologia militar

11/04/2008. Crédito: Breno Fortes/CB/D.A Press. Brasil. Tiriós - PA. Amazônia Oriental. Soldados do Exército do 1º Pelotão Especial de Fronteira do 2º Batalhão de Infantaria de Selva fazem patrulha na floresta amazônica próximo a fronteira com o Suriname. -  (crédito: Breno Fortes/CB/D.A Press)
11/04/2008. Crédito: Breno Fortes/CB/D.A Press. Brasil. Tiriós - PA. Amazônia Oriental. Soldados do Exército do 1º Pelotão Especial de Fronteira do 2º Batalhão de Infantaria de Selva fazem patrulha na floresta amazônica próximo a fronteira com o Suriname. - (crédito: Breno Fortes/CB/D.A Press)
ROBERTO MACIEL
postado em 20/06/2023 06:00

Não há atividade humana de maior impacto sobre o meio ambiente que a guerra. Hiroshima e Nagasaki são exemplos emblemáticos e extremos. Em tempos de relativa paz, entretanto, as ações militares são localizadas ou limitadas a treinamentos, perdendo, a maioria da população, a perspectiva da máxima e evitável tragédia humana: a guerra.

O sistema de defesa brasileiro compreende, no campo militar, as Forças Armadas, constituídas por Marinha, Exército e Aeronáutica, auxiliadas e ampliadas, internamente, pelas polícias militares. Os militares de carreira ingressam nas Forças Armadas por concurso público de âmbito nacional. Os temporários, por não se submeterem a esses certames, têm sua permanência limitada a nove anos. Todos, independente do perfil de acesso, se iniciam no estudo e preocupação quanto à questão ambiental — plasmando perenemente suas consciências ecológicas — logo no primeiro passo rumo aos portões das armas.

O sargento é o primeiro degrau da carreira militar. Sua importância se revela na magnífica frase que nos acolhe ao adentrarmos a Escola de Sargentos das Armas (ESA): "Sargento: elo entre o comando e a tropa". No momento, a Força Terrestre forma o grosso dos sargentos de carreira na citada ESA, situada em Três Corações (MG), mas há outras escolas que também contribuem na formação de especialidades mais técnicas.

O berço mineiro ficou acanhado e a necessidade de agrupar brasileiros de todas as partes do nosso país continente, dando-lhes coesão e sentido de pertencimento, fez amadurecer a ideia de um novo espaço, e o Nordeste foi escolhido, após criterioso estudo pela Alta Administração do Exército, para ser o novo cadinho dessa juventude militar. Lá, esses jovens se despojarão de regionalismos e se tornarão, realmente, soldados brasileiros.

Filosoficamente, a educação ambiental (EA) no Exército Brasileiro (EB) fundamenta-se no conhecimento dos impactos que a guerra causa ao meio ambiente, tanto mais devastadores quanto mais avança a tecnologia militar. Nesse sentido, as Forças Armadas em todo o mundo buscam empregar os meios necessários e suficientes para derrotar o inimigo, com os menores danos à população civil e ao meio ambiente, possibilitando a retomada da vida normal em curto espaço de tempo, quando cessadas as hostilidades.

O EB, por seu lado, recebendo anualmente um número expressivo de jovens para o serviço militar obrigatório (e temporário), é uma grande escola, o que implica a responsabilidade de, mais que educá-los para a guerra, educá-los para o exercício da cidadania. Além disso, sendo das poucas instituições do Estado presentes nos mais remotos rincões da pátria, é chamado a colaborar em ações de repressão a delitos ambientais, quando não tem, ele próprio, detentor de extenso patrimônio imobiliário, de policiar a si mesmo no uso sustentado desse patrimônio.

A causa ecológica transformou-se, também, nos dias atuais, em bandeira que todos desejam empunhar diante da tragédia anunciada do fim dos tempos, pelo uso predatório dos recursos naturais. Nos anos 1970, alvorecer da ecologia no Brasil, à falta de políticas públicas e literatura adequada e acessível em idioma nacional, o Exército publicou, por meio da sua Bibliex Editora, títulos primígenos sobre o tema, todos esgotados: Ecologia, a ciência da sobrevivência, de Lauren Pingle, 1977; Terra, um planeta inabitável, de Hans Liebmann, 1979; e Amazônia, natureza, homem, tempo, de Leandro Tocantins, 1982.

Até 2001, as ações voltadas ao meio ambiente no Exército Brasileiro foram assistemáticas. Neste ano foi aprovada a Política de Gestão Ambiental do Exército Brasileiro (Pgaeb), documento que lista os macro-objetivos da Força no que tange à questão ambiental. Ressalto quatro deles: formar recursos humanos especializados em gestão ambiental com a finalidade de elaborar estudos e decorrentes relatórios de impactos ambientais (Rima), referentes a empreendimentos e atividades a serem realizadas pelo Exército; promover a educação ambiental, valendo-se do sistema de ensino do Exército, conforme estabelecido no Regulamento da Lei do Ensino; tornar obrigatória a abordagem da EA em todos os cursos e estágios do EB; e a EA deverá estar presente na educação formal, informal e não formal.

No campo das regulações, o Exército transformou a sua Diretoria do Patrimônio Imobiliário em Diretoria do Patrimônio Imobiliário e Meio Ambiente e, devido à importância do assunto, indicou um general para conduzi-la. Diante do exposto, que demonstra a louvável preocupação da Força Terrestre com o tema meio ambiente, ofereço uma indagação, caro leitor: há algo a temer ou algo a comemorar quando o Exército se apresenta como gestor de projetos de importância estratégica que atendam à instituição e que envolvam análises ambientais?

ROBERTO MACIEL, general veterano pós-graduado em ecologia e intervenções ambientais, foi comandante da 12ª Região Militar (Amazônia Ocidental)

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