Na noite da última sexta-feira, Lucas Henrique, 7 anos, abriu a geladeira de casa, em Guararema (SP), para pegar comida. Pelo "crime", foi espancado até a morte. No hospital, os pais adotivos alegaram — como fazem 10 em cada 10 covardes em atrocidades assim — que o garotinho tinha caído. A justificativa, obviamente, não se sustentou ante os tipos de ferimentos. Uma criança assassinada a socos e pontapés não tem lesões similares a uma que sofre queda em casa.
Lucas já tinha dado entrada numa unidade de saúde, meses antes, com o fêmur quebrado. Na ocasião, como não havia sinais de violência, o caso se encerrou por aí. Se a fratura na perna foi provocada, não está comprovado. Mas sabe-se que o menino era constantemente surrado. A médica responsável pelo atendimento dele, na madrugada de sábado, relatou a existência de ferimentos antigos.
No depoimento à polícia, o homicida entrou em contradição tantas vezes que acabou por admitir a perversidade. Contou que, em meio ao espancamento, notou que o menino tinha parado de chorar, por isso o levou ao hospital. A equipe médica, porém, nada pôde fazer para salvá-lo, por causa da gravidade das lesões. O assassino ainda confessou que batia no filho rotineiramente, porque ele tinha "manias". Queria se alimentar o tempo todo e, na escola, escondia pãezinhos na camisa para levar para os outros dois irmãos, igualmente adotados — isso, para mim, chama-se fome.
A mãe adotiva também foi presa, por omissão. Estava na casa no momento da sessão de tortura e nada fez para impedir. Além disso, sem saber da confissão do marido, tentou convencer a polícia de que Lucas tinha caído da escada e sofrido espasmos. Ou seja, não se comoveu com o sofrimento de uma criança, mas se arriscou para tentar salvar o comparsa.
O covarde que massacrou Lucas atuava, até janeiro passado, como conselheiro tutelar — um servidor cuja função é zelar pelo bem-estar de crianças e adolescentes, assegurar o cumprimento dos direitos de meninos e meninas! É de causar perplexidade que um desgraçado dessa espécie tenha ocupado cargo tão louvável.
Mais estarrecedor ainda é o fato de um casal cruel assim tenha conseguido adotar três crianças. Como foi possível a aprovação deles no longo — e considerado rigoroso — processo? Fica patente que, em algum ponto, houve falha. A rede de proteção errou com Lucas. E o que era para ser um novo e feliz capítulo na vida dele se transformou em tormento e morte.
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