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JORNALISMO

Extradição de Assange: em jogo, a liberdade de imprensa no mundo

Carta com mais de 3.200 assinaturas de cientistas, jornalistas, professores, sindicalistas, lideranças da sociedade civil e entidades solicita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoio, providências legais e diplomáticas para o Brasil conceder asilo político ao jornalista Julian Assange, preso no Reino Unido

Caso a extradição de Assange se concretize, com a prisão agora definitiva do fundador do Wikileaks, estará aberto um gravíssimo precedente -  (crédito: TOLGA AKMEN)
Caso a extradição de Assange se concretize, com a prisão agora definitiva do fundador do Wikileaks, estará aberto um gravíssimo precedente - (crédito: TOLGA AKMEN)
postado em 22/08/2023 16:38 / atualizado em 22/08/2023 17:38

ÁLVARO NASCIMENTO

RENATO CORDEIRO


Em 12 de julho de 2023 o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine Ribeiro — durante reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT) e da cerimônia de outorga das Medalhas da Ordem Nacional do Mérito Científico a pesquisadores e entidades brasileiras —, entregou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma carta de cientistas, jornalistas, professores, sindicalistas, lideranças da sociedade civil e entidades solicitando seu apoio, providências legais e diplomáticas no sentido do Brasil conceder, da forma a mais ágil possível, asilo político ao jornalista Julian Assange, hoje preso no Reino Unido.

A carta propõe ao presidente Lula que ele coordene um esforço internacional junto a outros países, instituições e personalidades – a começar pelos componentes dos Brics e do G20, grupo do qual o Brasil assumirá a liderança em dezembro deste ano – com vistas a obter a aceitação deste asilo político por parte do governo inglês. Entre as personalidades mundialmente reconhecidas citadas na carta para serem procuradas por Lula estão o Papa Francisco, o ator Leonardo Di Caprio, o fotógrafo Sebastião Salgado, o Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, o compositor e escritor Chico Buarque de Holanda e jornalistas ganhadores do Prêmio Pulitzer, como Seymour Hersh.

É importante ressaltar que Assange ficou exilado na Embaixada do Equador em Londres por sete anos e, depois de preso, está há outros quatro anos numa penitenciária inglesa, totalizando 11 anos sem liberdade por ter tornado público fatos verdadeiros. Hoje estamos diante de uma iminente extradição de Assange para os EUA, onde poderá ser condenado a até 175 anos de prisão por revelar fatos graves a respeito daquele país.

Por meio do Wikileaks, Julian Assange realizou um extraordinário trabalho jornalístico, publicando inúmeros documentos militares e diplomáticos de fontes fidedignas, mas considerados confidenciais pelo governo dos Estados Unidos, mas que são de interesse de todo o mundo. Entre estes documentos, um vídeo mostra helicópteros das forças estadunidenses em ação no Iraque em 2007, matando vários civis e jornalistas da Reuters. Assange também divulgou importantes e verdadeiras informações sobre outras ações de militares dos EUA no Iraque e no Afeganistão.

O mundo assiste a um grande movimento humanitário visando impedir a inaceitável extradição de Assange, mas os principais veículos de comunicação do planeta estão silenciosos e parece não perceberam que o que está em jogo não é apenas a liberdade de um jornalista injustamente processado. O que está em risco é a liberdade de imprensa como um direito não apenas dos jornalistas e das empresas de comunicação, mas das sociedades e de cada cidadão de serem corretamente informados e saberem a verdade. O mundo não pode ficar refém de não vir a saber de verdades que não interessem a este ou aquele governo.

Caso a extradição de Assange se concretize, com a prisão agora definitiva do fundador do Wikileaks, estará aberto um gravíssimo precedente. Qualquer jornalista que obtenha informações verdadeiras e comprovadas sobre os Estados Unidos (ou de qualquer governo que considere de segurança nacional informações sobre si próprio) poderá vir a ser processado, extraditado e preso, esteja aonde estiver, já que serão estes próprios governos que decidirão quais informações podem ou não podem ser divulgadas sobre suas ações, sejam elas efetivadas dentro ou fora de seus territórios. Um absurdo completo.

Nesta semana, John Shipton, pai de Assange, num processo de peregrinação pelo mundo, visita o Brasil para lançar o filme Ithaka - A Luta de Julian Assange. Ele busca angariar novos apoios em sua luta contra a extradição e pela liberdade do filho. Lula terá uma grande oportunidade não apenas de se solidarizar com a justa luta de um pai, mas iniciar imediatamente o esforço proposto a ele na carta entregue pelo presidente da SBPC e subscrita por mais de 3.200 brasileiros.

Como afirmamos no documento entregue a Lula, “independente do resultado, este esforço vigoroso em defesa de Assange contribuirá para marcar ainda mais a posição humanitária e progressista do governo brasileiro no mundo, como tem sido a nossa marca desde 1º de janeiro de 2023’”.


ÁLVARO NASCIMENTO, jornalista, tecnologista da Fiocruz e escritor

RENATO CORDEIRO, pesquisador emérito da Fiocruz

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