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Violência

Artigo: Não é estatística; são 25 mulheres assassinadas

Andreia Crispim foi a 25ª vítima de feminicídio do Distrito Federal só este ano. Isso não pode significar apenas uma estatística para ser usada para construir políticas públicas

A campanha, além de conscientizar homens a não praticar violência contra as mulheres, também vai orientar as mulheres que sofrem ou testemunham essa violência a não se calarem e denunciarem os agressores -  (crédito: Pacífico)
A campanha, além de conscientizar homens a não praticar violência contra as mulheres, também vai orientar as mulheres que sofrem ou testemunham essa violência a não se calarem e denunciarem os agressores - (crédito: Pacífico)
postado em 27/08/2023 06:00

Eu li a história de Andreia Crispim, 50 anos, vítima de um assassino, que transformou sua vida em um martírio. Não causa apenas tristeza, mas revolta, uma dor que é sentida por todos os corpos femininos. O fim do casamento normalmente não é o fim das sequências de agressões e culmina com o ato extremo do machismo: já que a mulher já não pode ser seu saco de pancadas, não serve mais para o covarde. E assim elas morrem indefesas.

Até o desfecho trágico, a catadora de recicláveis que morava na Estrutural fez pedidos de socorro, boletins de ocorrência e recebeu medidas protetivas, retiradas por medo. Andreia foi a 25ª vítima de feminicídio do Distrito Federal só este ano. Isso não pode significar apenas uma estatística para ser usada para construir políticas públicas, ainda que isso seja importantíssimo. Há urgência. Há calamidade pública, senhor governador, senhores deputados distritais. O feminicídio é uma tragédia nacional, senhor presidente da República, ministros, ministras, deputados e senadores.

Sabemos que este é um problema complexo, enorme, fundado em um machismo estrutural, que não se resolve em uma geração. Mas não podemos esperar resolver a causa para acabar com a matança de mulheres no Distrito Federal. O Estado precisará intervir, assegurar a proteção, e a sociedade precisa não só cobrar, mas ajudar a denunciar, se organizar com medidas que permitam mulheres e homens comuns terem estratégias de auxílio a mulheres ameaçadas.

A morte de tantas mulheres está reverberando, está nas rodas de conversas, dos salões de beleza, no bate-papo no transporte, nas prosas dos cafés, nos supermercados. Mas não chega às altas rodas como um problema de solução urgentíssima.

Há iniciativas importantes, eu sei. O Tribunal de Justiça do DF e Territórios fez uma discussão interessante sobre a forma correta de divulgar; o Ministério Público e a OAB têm atuado também. A vice-governadora, Celina Leão, está empenhada e tem se mobilizado.

Há anos, o Correio faz séries de matérias, denuncia, esclarece. Só este ano, promovemos dois debates e faremos outro no fim de setembro. Mas sabemos que é preciso mais, e é preciso logo. Não podemos nos calar, nem nos imobilizar. Que cada um de nós pense: que passo poderei dar para proteger uma mulher em risco?

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