LUCIANA FIGUERAS
JESSICA DOUMIT
Observando o padrão de urgência impresso pela última Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27), realizada no período de 6 a 18 de novembro de 2022, em Sharm El-Sheikh, no Egito, é fundamental que todas as iniciativas que promovam a valorização ambiental e corroboram com a descarbonização sejam mensuradas, evidenciadas e, consequentemente, expandidas. Logo, está mais do que na hora de discutirmos sobre a influência e o impacto da reciclagem, de forma exclusiva, no processo de descarbonização industrial.
Para isso, estamos desenvolvendo um estudo inédito que tem o objetivo de, justamente, declarar e reconhecer a reciclagem como uma das principais ferramentas de descarbonização nacional, contribuindo para que o Brasil cumpra com suas metas climáticas. Dessa forma, acreditamos que o projeto impulsionará a construção de políticas públicas de incentivos socioeconômicos e fiscais para aumentar as taxas de reciclagem no Brasil.
Em 2022, foram gerados mais de 81,8 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos no Brasil, o que corresponde a 224 mil toneladas diárias. Com isso, cada brasileiro produziu, em média, 1,043 kg de resíduos por dia, segundo os dados do último Panorama dos Resíduos Sólidos, da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais). Além disso, o país emitiu 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO2 equivalente em 2021, um aumento de 12,2% em relação a 2020 (2,16 bilhões de toneladas), conforme levantamento do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), do Observatório do Clima.
De acordo com uma recente pesquisa liderada pela University of Bristol, extremos de calor sem precedentes combinados com vulnerabilidade socioeconômica colocam certas regiões em maior perigo pelos seguintes fatores: maior chance de temperaturas recordes, populações crescentes, questões de saúde e sanitárias e energia precária. Melhorar nossa compreensão de onde a sociedade pode não estar preparada para os extremos climáticos pode ajudar a priorizar a mitigação nas regiões mais vulneráveis.
Infelizmente, muitas famílias vivem em áreas de lixões a céu aberto em diversas cidades no nosso país, sujeitas e expostas a perderem suas vidas por tragédias climáticas que alcançarão, primordialmente, áreas de vulnerabilidade socioambiental. Assim, a reciclagem, por ser um importante instrumento de inclusão da mão de obra de catadores e catadoras, deve ser vista como uma fonte de valorização ambiental e resiliência climática. Por meio do reconhecimento da reciclagem como um dos principais caminhos para descarbonização a nível nacional, será possível promover e “carimbar” a destinação de incentivos e fomentos socioeconômicos e fiscais para assim elevarmos os números da reciclagem de resíduos sólidos do Brasil.
Nesse contexto, diante da urgência no enfrentamento das questões ambientais, verifica-se que dentro do cenário da economia circular existe o núcleo primordial da reciclagem, com forte potencial de mitigação e descarbonização, tais como florestas, energias limpas e captura de gases de aterros sanitários, que promove resultados imediatos e de relevância na sociedade como um todo.
Portanto, esforços devem ser engendrados para demonstrar a necessidade do registro e mensuração do impacto da reciclagem na descarbonização do processo industrial, a fim de fornecer dados relevantes para controle, refinamento e expansão destes processos, como forma de migração da atual economia de consumo e descarte (linear) para uma economia inclusiva e resiliente (circular), uma vez que pensar em reciclagem é pensar em sustentabilidade, governança, geração de emprego e renda, economia de recursos naturais, energia e água, através de operações e processos que possam entregar a maior valorização dos resíduos, os desviando de aterros sanitários e lixões, atendendo integralmente as premissas ESG e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, tendo o ODS 12 “Consumo e Produção Responsáveis” como central da pesquisa.
LUCIANA FIGUERAS, diretora de Relações Institucionais Governamentais da Confederação Nacional de Cooperativas de Trabalho e Produção de Recicláveis (Conatrec), consultora de clima e nercado de carbono do Instituto Giro e da eureciclo, e mestranda no curso de Desenvolvimento e Planejamento Territorial da PUC Goiás
JESSICA DOUMIT, diretora de governança da Eureciclo e diretora-presidente do Instituto Giro, apoiadores técnicos do Projeto Descarbonização pelo Advento da Reciclagem
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